Pensata

Marcio Aith

13/05/2002

Bush quer ressuscitar educação cívica nas escolas americanas

O presidente dos EUA, George W. Bush, decidiu lançar um ambicioso programa para reintroduzir a educação cívica no currículo das escolas americanas, segundo informação publicada na edição de domingo do "Washington Post".

Segundo o diário norte-americano, a decisão de Bush "visa converter o patriotismo efusivo pós-atentados de 11 de setembro passado num esforço sistemático para ensinar o amor à pátria para americanos de idade escolar".

Até a década de 60, a disciplina era ensinada para a maioria dos estudantes do ensino secundário dos EUA. Quando as reações internas à Guerra do Vietnã dividiram a sociedade e relativizaram a concepção de civismo, não foi mais possível aplicá-la sem que vários pais reagissem com virulência contra os professores. Hoje, avalia-se que menos de 7% dos alunos secundários dos EUA aprendem alguma forma de civismo _ devoção ao interesse público, respeito à cidadania, patriotismo ou civilismo.

Como a maioria das escolas de primeiro e de segundo graus nos EUA são estaduais, Bush não pode introduzir uma nova disciplina por decreto federal. Muito menos formular sua própria concepção de educação cívica, moldando seu conteúdo aos propósitos que até agora não compreendi direito (embora tenha e tema algumas suspeitas). Até mesmo a idéia de aprovar uma lei no Congresso suscita dúvidas legais, já que, nos EUA, a intromissão do poder federal na soberania dos Estados permanece sendo um tabu.

Por essa razão, restam ao presidente norte-americano duas alternativas: oferecer benefícios às escolas que aceitarem a reintrodução da disciplina; ou constranger, por meio de discursos inflamados, os Estados a ensinarem educação cívica aos alunos.

No Brasil das décadas de 70 e 80, o estudo da educação (moral e) cívica teve forte influência do totalitarismo positivista. Ainda me lembro de algumas aulas. Pressupunha-se a existência de uma moral social cujo pilar era um governo central forte que protegia o Estado dos interesses individuais. Aprendíamos o significado da bandeira, a grandeza do país e decorávamos respostas robóticas para perguntas idiotizantes. Hoje, prefere-se ensinar cidadania.

Reconheço a fragilidade de comparações entre países distintos em momentos distantes. No entanto, tentações totalitárias são inerentes aos seres humanos, em qualquer momento, em qualquer lugar.

Em setembro passado, os EUA foram vítimas dos maiores ataques terroristas da história mundial. Ao reagir, Bush recebeu dos americanos um apoio nunca registrado na história presidencial norte-americana. Parte de seu gabinete quer utilizar esse apoio para garantir que o país não sofra novos ataques. Outra parte parece ter idéias mais ambiciosas que requerem uma forte união interna. Pode ser que a educação cívica de Bush tenha algum tipo de relação com elas.



Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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