Pensata

Marcio Aith

20/05/2002

Bush tenta incorporar Cuba à lógica antiterror

Quando Fidel Castro tomou o poder em Cuba, no primeiro dia de 1959, George Walker Bush tinha 12 anos de idade. O presidente norte-americano naquele ano era Dwight Eisenhower. John Kennedy, o seguinte, impôs o embargo econômico contra a ilha. Desde então, outros sete passaram pela Casa Branca até que Walker, crescido e alimentado durante esse período, assumisse o comando da maior potência econômica e militar do mundo.

Quatro dos nove presidentes norte-americanos que estiveram na Casa Branca enquanto Fidel comandava Cuba já morreram (Eisenhower, Kennedy, Lyndon Johson e Richard Nixon). Fidel continua de pé, assim como o embargo. À exceção de Jimmy Carter, que tentou inutilmente mudar a política para Cuba durante sua gestão, os outros mantiveram a mesma linha dura. Durante alguns momentos da administração de Bill Clinton, acreditou-se que uma mudança poderia vir. No entanto, como diziam os especialistas em Cuba, somente um presidente republicano relaxaria o embargo sem enlouquecer a comunidade anticastrista na Flórida.

Hoje, segunda-feira, dia 20 de maio de 2002, Walker Bush, diretamente de Miami, anuncia suas diretrizes para Cuba. Assessorado por seus especialistas em América Latina, o presidente deverá reforçar o embargo e fazer ameaças militares veladas contra Castro.

Bush está contrariando análises externas segundo as quais sua bandeira pró-comércio traria um viés mais pragmático à política externa norte-americana.

Dois fatores explicam essa surpresa. O primeiro é eleitoral. Para agradar a base política de seu irmão Jeb, governador da Flórida, Bush encheu cargos na Casa Branca e no Departamento de Estado de cubanos naturalizados norte-americanos, líderes da comunidade anticastrista sediada em Miami.

Dos dez mais altos funcionários do governo Bush para a América Latina, sete são cubano-americanos que nunca esconderam sua obsessão anti-Castro. Outro fator é a percepção de Bush de que chegou a hora de os EUA exercerem sua hegemonia no mundo. Afinal de contas, deve pensar Walker Bush, "se nós ganhamos a Guerra Fria, por que não exercitar nosso poder"?

Sinais há de sobra para essa suposição. Há duas semanas, os EUA colocaram Cuba no "Eixo do Mal". A Casa Branca disse que Fidel pode estar planejando a fabricação de armas biológicas. Trata-se de um indício dos planos de Bush, o décimo presidente norte-americano a conviver com Fidel Castro. Cada um dos outros também tinha um plano.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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