Pensata

Marcio Aith

17/06/2002

Bush descobre o futebol; México perde os anéis

O México já sofreu três invasões e perdeu metade de seu território para os EUA. Hoje, sua seleção de futebol foi desclassificada da Copa do Mundo pela equipe do gigante ao Norte.

Pelas ruas de Washington, mexicanos subempregados esperavam, cabisbaixos, ônibus e trens de metrô que os levariam a seus locais de trabalho depois de uma madrugada triste e mal dormida. Eles assistiram o jogo pela emissora de língua espanhola "Univision", cujos comentaristas torceram aberta e inutilmente pelos mexicanos. Os norte-americanos ganharam por 2 a 0.

Quatro horas antes do jogo, no domingo à noite, o presidente George W. Bush telefonara para o técnico e os jogadores da seleção de seu país.

"O país está realmente orgulhoso do time", disse Bush. "Muitas pessoas que nem mesmo conheciam o futebol, como eu, estão excitadas e torcendo por vocês. Acabei de desligar o telefone com o presidente do México (Vicente Fox). Ele foi muito cortês. Não cantei vitória ainda, mas estou muito confiante."

Reunido com seus jogadores, o técnico Bruce Arena respondeu ao presidente: "Sei que representamos o melhor país do mundo. Faremos um esforço que dará orgulho a você e à América".

O telefonema de Bush indica que a Casa Branca descobriu o potencial político e a importância mundial do futebol jogado com os pés (desculpem a redundância, os EUA nos obrigam a cometê-la).

No dia 4 de junho, Robert Samuelson escreveu um controverso artigo no Washington Post que dizia: "Nós estamos roubando o jogo deles". Segundo o economista, o progresso técnico e tático dos jogadores norte-americanos nos últimos anos foi de tal ordem que o país está pronto para ganhar um mundial _seja esse ou os próximos.

Samuelson cometeu um equívoco pelo qual pagará caro. Mencionou no artigo que os EUA ainda não foram campeões mundiais. Milhares de leitoras (e leitores), indignadas, acusaram-no de machista por ter-se esquecido do mundial ganho pela seleção feminina, em 1999.

Aliás, os homens norte-americanos dizem que o futebol jogado pelos pés é coisa de mulher ou de homem afeminado. Quem se interessa pelo esporte no país é a gigantesca comunidade latina e as mulheres.

Apesar disso, uma fatia ampliada da população está acompanhando o resultado dos jogos com orgulho, embora não os assistam. Cresce nos EUA a sensação de que uma vitória da seleção poderia ter duplo efeito positivo. Provar que os norte-americanos conseguem o que querem quando se aplicam. Homenagear, de forma global, os mortos nos atentados de 11 de setembro.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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