Pensata

Marcio Aith

26/03/2001

Clonagens começam a exibir aberrações

A foto publicada ontem no "New York Times" (25 de Março de 2001) é impressionante. Dois ratos geneticamente idênticos, lado a lado. Um, normal. Outro, clone do primeiro, grotescamente gordo, duas vezes maior que sua matriz genética.

Ryuzo Yanagimachi, cientista da Universidade do Hawai que usou o DNA do primeiro para criar o segundo, não sabe explicar a diferença.

Além de serem geneticamente idênticos, os dois ratos ingeriram o mesmo volume de comida e foram colocados num mesmo ambiente.

Não foi a primeira vez que tal aberração ocorre numa clonagem. Yanagimachi e outros cientistas, inclusive alguns que participaram da criação da famosa ovelha Dolly, dizem verificar problemas em quase todas as clonagens que "dão certo".

Mesmo Dolly, aparentemente saudável, engordou muito, teve de ser separada das outras ovelhas e colocada sob dieta.

Segundo relatórios dos cientistas do Hawai (os primeiros a clonarem ratos), as cópias genéticas se desenvolvem normalmente até uma idade equivalente aos 30 anos para os humanos. Daí em diante, começam a crescer num ritmo alucinado.

Além de ficarem morbidamente gordos, os ratos clonados demoram mais tempo para desenvolverem a visão e a audição. Em várias ocasiões, tiveram de ser mortos antes de nascerem, depois de serem verificados, durante a fase embrionária, problemas terríveis nos pulmões.

Trata-se de um alerta para os cientistas que querem clonar seres humanos e que já eram bombardeados com questões éticas e religiosas.

Fica evidente o risco de tentar realizar a clonagem humana antes que esses problemas sejam solucionados - ou ao menos contornados.

Criar uma "aberração humana" e exibir seus defeitos para o mundo via TV seria um golpe na consciência de todos. Um filme "B" de mau-gosto.

A única suspeita dos cientistas para explicar o mistério é o fato de o material genético usado para clonagens ser extraído de células da pele, do cérebro ou do cabelo de animais já adultos.

São células finais, que já chegaram ao seu estágio último de desenvolvimento, já cumpriram seu papel desenhado geneticamente.

Para permitir que se multipliquem e gerem clones, os cientistas reprogramam estas células, usando choques e interferências que, até agora, achávamos inofensivos.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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