Pensata

Marcio Aith

05/08/2002

Lula apoiou extensão do acordo com FMI

Escrevo essa coluna depois de ouvir o debate entre os presidenciáveis no Brasil. Ouvi José Serra perguntar a Luiz Inácio Lula da Silva se o PT apoia a extensão do atual acordo do Brasil com o FMI _ providência atualmente sendo negociada por uma missão do governo brasileiro em Washington.

A resposta, em princípio, pareceu-me confusa. Lula disse que não faz sentido recorrer sempre ao Fundo para resolver os problemas do país, como se a pergunta tivesse sido: "Faz sentido recorrer sempre ao FMI para resolver os problemas do país?"

No entanto, apesar da evasiva _ normal num debate político televisivo_, Lula sinalizou de forma inequívoca que, se eleito, aceitaria os termos de um acordo fechado por uma missão de FHC.

Essa foi a grande novidade do debate. Serra fez a pergunta porque sabe _por meio de suas poucas fontes que sobraram no governo_ que FHC e o PT andam dialogando sobre os limites para um acordo aceitável.

O objetivo de Serra foi tentar pegar Lula de calças curtas, cobrando dele coerência entre discurso e a prática. Embora o programa do PT já defenda a responsabilidade fiscal e a inflação baixa, Lula, até ontem, nunca fora claro sobre a possibilidade de extensão do acordo.

Ciro Gomes, que diz ser contrário, não tocou ontem no assunto, por não ter sido perguntado ou porque o evitou propositadamente.

Mas Lula não só indicou que aceitaria a extensão do acordo como ainda pediu que, paralelamente à negociação em Washington, o governo envie ao Congresso um projeto de minireforma tributária para desonerar o setor produtivo e "permitir que o Brasil dê um salto de qualidade e não precise voltar ao FMI em quatro ou cinco meses."

Coincidentemente, o FMI também defende uma minireforma tributária _ ainda que para elevar a arrecadação com o objetivo de para os juros da dívida, e não para desonerar o setor produtivo, como quer Lula.

Aos poucos, sinto que há mais diálogo ocorrendo entre o Palácio do Planalto, o FMI e Lula do que imaginamos nós, pobres mortais. Veremos como reage o PT quando o acordo for divulgado, em alguns dias.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca