Pensata

Marcio Aith

14/10/2002

Brazilianistas apontam limites de um governo Lula

Se eleito, Lula fará um governo moderado e pragmático. No entanto, enfrentará dificuldades aparentemente intransponíveis para redistribuir renda e usar o Estado como indutor da economia. Como consequência, Lula poderá frustrar parcela importante da população que o vê como símbolo de Justiça e mobilidade sociais.

Essas são as conclusões de um encontro de "brazilianistas" realizado na tarde de sábado na embaixada do Brasil em Washington. Estavam presentes cerca de 20% do "PIB brazilianista" mundial. Quem comandou a conversa foi o decano deles, Thomas Skidmore, que aposentou-se recentemente da Universidade Brown, em Rhode Island. Participaram também Werner Baer e Joseph Love, da Universidade de Illinois, Joe Tolman, da Universidade do Novo México e Joe Straubhaar, da Universidade do Texas, entre outros.

Foram tiradas duas conclusões. A primeira é óbvia para eles, mas não para a opinião pública americana: Lula não é Chávez nem Fidel Castro. Já transformou-se num político "domesticado" e uma peça da engrenagem política brasileira. A segunda, mais interessante, sustenta que Lula está numa armadilha complexa. Não pode mais usar o Estado para induzir a economia porque as regras comerciais internacionais e o rigor fiscal do FMI não permitem. Sua única saída, aproveitar o capital humano no setor de serviços (o único setor que ainda emprega no mundo), demoraria tempo para dar resultados, e mesmo assim não está sendo cogitada. A seguir, trechos das opiniões de alguns estudiosos:

Werner Baer- "O problema grave do Brasil é a desigualdade de renda. As razões dessa desigualdade persistem independentemente de a economia ser aberta ou fechada. Mesmo com um governo Lula, não está claro como essa desigualdade poderá ser combatida. Reforma agrária não resolve o problema. O setor agrícola representa apenas 10% da PEA (População Economicamente Ativa). Não dá para distribuir renda fazendo reforma agrária. Também não se pode distribuir renda com uma política industrial, já que as indústrias empregam cada vez menos. O ideal seria encontrar medidas criativas para usar o setor de serviços na distribuição de renda, e isso não está sendo buscado. O setor de serviços é onde o capital humano é melhor aproveitado, mas só se fala em política industrial."

Joe Straubhaar- "Não sei como Lula pode fazer mudanças na política industrial num mundo globalizado onde é cada vez mais difícil usar o Estado para induzir a economia. Lula está sendo apoiado por industriais ameaçados pela abertura, mas não sei qual é a alternativa que ele _ e nesse campo, Serra também_ está oferecendo. Não sei se basta mencionar vagamente idéias como substituição de importações. Lula simboliza mobilidade social. As expectativas são grandes. Não sei o que ele fará. Nem sei o que eu faria..."

Thomas Skidmore- "Lula terá que executar um regime capitalista de muito sucesso para elevar a base produtiva e oferecer o "Welfare State" que prometeu. Contrariar as reivindicações sociais e os setores de esquerda de seu partido será um de seus maiores desafios."

No encontro de brazilianistas, foram lançados o Guia dos Arquivos Americanos Sobre o Brasil e a edição em inglês do Guia sobre os Estudos Brasileiros nos Estados Unidos - 1945-2000. As publicações foram promovidas pelo embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa e pelo ministro-conselheiro da embaixada, Paulo Roberto de Almeida.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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