Pensata

Marcio Aith

02/04/2001

O presidente mais conservador do mundo

O presidente George W. Bush é perigoso. Não pelo que quer fazer, pois, no fundo, nem queria estar na Casa Branca. Foi empurrado para o cargo pela família e por interesses. Ele é perigoso justamente por causa da família e dos interesses. Bush dá a impressão de ser apenas o instrumento de outros. Parece estar disposto a aceitar conselhos mais absurdos sem submetê-los ao escrutínio de seu ego.

Sua decisão de não implementar o Protocolo de Kyoto (tratado internacional para conter o aquecimento global) é apenas um dos vários indicadores de que os interesses mais localizados estão instalando na Casa Branca a gestão mais conservadoras dos tempos modernos.

Já escrevi que, em cada uma das medidas e nomeações tomadas durante seu curto governo, Bush revelou uma orientação ideológica mais "à direita" que a de seu próprio guru, o ex-presidente ultraconservador Ronald Reagan, e a de seu pai, George Bush.

Nos últimos dias, cortou, freneticamente, dezenas de programas sociais criados nos últimos quinze anos. Entre eles, um projeto alternativo contra a criminalidade e outro que permite a idosos e doentes retirar benefícios sociais sem pagar taxas a bancos.

No campo ambiental, além de rejeitar o acordo de Kyoto, Bush relaxou as leis sobre dejetos químicos e sobre os índices de arsênico na água, anunciou que estenderá a exploração de petróleo a regiões hoje preservadas e cancelou a criação de novas áreas de proteção ambiental.

No setor militar, Bush ressuscitou um discurso belicoso e o projeto de um escudo antimíssil que consumirá US$ 50 bilhões dos orçamentos até sua implementação.

Tenho a impressão de que, se seus assessores próximos lhe propusessem a invasão de Cuba sob um pretexto qualquer (pode ser o contrabando de charutos cubanos aos EUA), ele assinaria embaixo. Se dissessem a ele que o presidente venezuelano, Hugo Chavez, é perigoso para os interesses dos EUA e deveria ser assassinado, talvez ele aceitasse financiar assassinos patriotas. Bush aceita qualquer coisa, desde que seus assessores próximos e seu pai concordem. O exercício de sua presidência é absurdo.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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