Pensata

Marcio Aith

09/04/2001

Alca começa em 2006, mas ninguém sabe o que ela significa

Está acertado. Depois de uma queda-de-braço de meses, decidiu-se, em Buenos Aires, que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) começará a ser implementada no dia 1º de janeiro de 2006. Segundo escreveu Clóvis Rossi na Folha de S.Paulo de ontem, a decisão atende parcialmente às expectativas do Brasil, que sempre quis 2005 como prazo mínimo para o final das negociações. Mas havia também, no Itamaraty, a expectativa de que o mês fosse dezembro de 2005, não necessariamente janeiro.

Fica a seguinte pergunta: e agora?

As negociações da Alca dão a impressão de ficarem mais vitais e mais soltas a cada dia. Cada etapa transposta introduz uma nova discussão, mais importante e incerta. Agora, está em jogo a disposição de os EUA discutirem suas controversas regras antidumping e seus generosos subsídios agrícolas. Ou, alternativamente, seu poder de levar a Alca adiante sem abrir mão destes elementos, considerados protecionistas pelo resto do mundo. Também não sabemos se condições especiais poderão ser dadas a setores frágeis da economia brasileira, para que tenham mais tempo de adaptação ao processo de redução tarifária.

Neste contexto, a Alca continua sendo um mistério. Não se trata de fazer avançar uma negociação já delimitada. Trata-se de delimitar uma discussão. Nada e tudo ainda são possíveis. A Alca pode ser uma simples reunião de países que decidiram baixar suas tarifas ou de nações que aceitaram abrir suas caixas-pretas de comércio em nome de um bloco unido. Pode, também, simplesmente dar errado - o que deixaria boa parte do hemisfério feliz.

Seria uma burrice desprezar os esforços já feitos pelo governo brasileiro para resistir às pressões norte-americanas. Acho, com sinceridade, que o Itamaraty soube explorar com habilidade as divisões dentro das instituições norte-americanas e colocar racionalidade num processo que poderia correr mais rápido que o desejado para o Brasil. No entanto, seria ingenuidade acreditar que os EUA já mostraram todos os seus instrumentos de persuasão. Estou certo de que, assim que conquistar apoio da maioria do Congresso norte-americano, a Casa Branca voltará à carga, de uma maneira ainda não vista pelo Palácio do Planalto. Até lá, seria saudável mostrar à população brasileira o potencial (de estragos ou de acertos) da Alca.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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