Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

22/04/2001

Senadores, façam uma faxina pelo bem do país

O Senado brasileiro tem a grande chance de fazer uma faxina e melhorar a imagem da instituição e de toda a classe política do país. Basta que abra processos de cassação contra os senadores José Roberto Arruda (PSDB-DF), Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA).

Que abra o processo, que dê direito de defesa aos três, que faça investigações à exaustão, que leve o caso ao plenário e que casse quem for culpado.

O que não pode acontecer é deixar de lado todas essas denúncias ou adotar manobras para evitar a cassação, substituindo-a por uma punição mais branda, por exemplo a perda temporária do mandato, como começam a defender alguns senadores.

Por enquanto, ACM e Arruda estão mais enrolados porque há mais indícios contra eles. Os dois são acusados de pedir a quebra do sigilo da votação dos senadores na sessão que cassou o ex-senador Luiz Estevão, em junho do ano passado.

Tudo começou quando o promotor Luiz Francisco revelou os conteúdos de uma fita na qual ACM teria dito ter uma listagem de como tinham votado os senadores naquela sessão histórica (a primeira vez que os senadores cassaram um dos seus pares).

Após isso foi pedido uma análise do painel do Senado para saber se ele havia sido violado. Confirmada a violação, coube à ex-diretora do departamento de processamento de dados do Senado Regina Borges confessar o que, segundo ela, Arruda ordenou que fosse negado "mesmo sob tortura": que tudo havia sido feita a pedido de Arruda, que agia a mando de ACM.

Regina, com muito firmeza, contou tudo em depoimento a quase todos os senadores. Disse ainda que entregou a lista com os votos dos senadores ao assessor de Arruda e que o próprio ACM lhe telefonou para agradecer o "serviço feito".

Até agora, nem ACM nem Arruda conseguiram apresentar fatos que desmintam o depoimento de Regina.

Contra Jader, as denúncias ainda estão se avolumando. O presidente do Senado e do PMDB é acusado de desvio de dinheiro público, além de outras tantas irregularidades envolverem sua atual mulher, a ex, e um sócio.

Não se trata de fazer pré-julgamentos. Mas ou tudo é apurado com lupas e os culpados são punidos ou o país inteiro vai ficar com a impressão de que o Legislativo (que deve ser uma das instituições mais sérias numa democracia) é composto por uma corja. Ou seja, ou os senadores se livram daqueles que foram pegos em irregularidades ou se igualam a eles.

Faxina, já.

PS: Há mais um dado nesse imbróglio todo: os três sob suspeita são representantes do PSDB, PFL e PMDB, partidos que fazem parte da aliança responsável pelas eleições de Fernando Henrique em 94 e 98 e que têm sonhos de permanecer no poder além de 2002.

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Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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