Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

11/05/2003

As ameaças do tráfico no Rio e as bravatas de Garotinho

O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Álvaro Lins, afirmou que há uma "onda de histeria" na cidade. Disse isso após nove escolas e três creches fecharem, na sexta-feira, por causa de telefonemas ameaçadores: se continuassem abertas, seriam atacadas, afirmavam os bandidos ao telefone.

Todas as ameaças podem ter sido trotes, como quer fazer crer o novo secretário de Segurança Pública do Estado, Anthony Garotinho, que também é o "primeiro-marido".

Podem, como podem ser reais. Na segunda-feira, a Universidade Estácio de Sá não levou em conta a ameaça de traficantes. Foi atacada e um tiro atingiu uma aluna dentro do campus. Ela ainda corre risco de morte.

Há mais sinais do clima de medo. Na quinta-feira, um acidente corriqueiro parou o trânsito na Linha Vermelha. Com medo de que fosse mais uma ação de bandidos, motoristas entraram em pânico e começaram a andar de ré ou na contramão para fugir do suposto tiroteio.

É claro que há muitos aproveitadores tirando vantagens desse medo todo.

Escolas no Rio afirmam que muitas ameaças vêem acompanhadas de extorsão. Os bandidos afirmam que elas podem continuar abertas, desde de que pagem uma boa quantia.

Mas o descoberta de que há histeria e aproveitadores não basta para resolver o problema. Mais que fazer diagnósticos, o Estado tem que agir e combater essa "onda de histeria" com uma real "sensação de segurança".

Ameaças só causam pânico quando há condições de que elas se tornem realidade. Quando não, provocam risadas. Moradores e donos de escolas e de lojas no Rio só estão com medo porque sabem que hoje o crime está mais organizado que o Estado. Que quando há uma ameaça de ataque ela pode se concretizar. Já quando Garotinho fala em combater e reduzir a criminalidade, isso mais parece uma ameaça, para o tráfico, que não irá se realizar.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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