Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

13/05/2001

Uma CPI para investigar como barraram a CPI da Corrupção

Um dos argumentos que o governo federal usava para desqualificar a CPI pedida pela oposição era que ela não tinha foco e que queria investigar assuntos velhos, do passado, que já estavam suficientemente explicados.

Só que, para enterrar a CPI da Corrupção, FHC e cia. criaram um fato novo e que precisa de investigação minuciosa: quais foram as moedas de troca dadas pelo governo para que 20 deputados tirassem as assinaturas do pedido da CPI na noite de quinta-feira?

Porque não foi com palavras ou apelo ao bom senso, ou ainda com a desculpa de que era preciso manter a base aliada, que o Executivo convenceu os deputados a se expor à opinião pública saindo do grupo dos pró-CPI. Os 20 também não foram comovidos com o argumento de que o Brasil poderia parar e que os investidores estrangeiros fugiriam daqui. Esse argumento já era velho, não apareceu na quinta à noite.

Ao menos uma coisa já se sabe: o governo abriu os cofres e deu verbas para projetos que beneficiam parlamentares. Levantamento da Folha mostrou que para abafar a CPI o presidente assinou a liberação de R$ 65,4 milhões, quase 300% a mais do que o liberado nos primeiros quatro meses do ano (R$ 17,3 milhões).

E essa é a parte visível. Há também no acordão a possibilidade de livrarem o pescoço de Antonio Carlos Magalhães, que está com o mandato sob ameaça por ter quebrado o decoro parlamentar no caso da violação do painel do Senado.

ACM já fez sua parte, 5 dos 20 deputados que "desassinaram" o pedido de CPI são pefelistas ligados a ele. E o ex-presidente do Senado não fez esse gesto de "boa vontade" com o governo de graça, mas para garantir a contrapartida na hora necessária.

O que mais espanta nessas histórias todas é que parece que Brasília adotou de vez o lema "os fins justificam os meios". Ou seja, ACM diz que mentiu para proteger o Senado, para que a histórica sessão que cassou Luiz Estevão não fosse anulada.

De seu lado, o Executivo abre cofres sem critérios ou prioridades reais e faz acordos para salvar senadores que faltaram com o decoro também para o bem do pais. Para que o programa econômico não saia dos eixos, para que o Brasil não fique ainda mais vulnerável às crises de seus vizinhos.

Tudo é incrivelmente feito em nome do bem. O problema é que na maioria da vezes as pessoas estão agindo para o próprio bem.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca