Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

03/06/2001

Qual a razão dos ataques a FHC?

A popularidade de Fernando Henrique cai. Os candidatos da oposição sobem nas pesquisas de intenção de voto. Até amigos como o governador do Ceará, Tasso Jereissati, afirmam que se a eleição fosse hoje o presidente dificilmente faria o sucessor. E outros amigos ou ex-amigos, que compõem a elite intelectual brasileira, lançam torpedos contra o presidente em artigos, ensaios e entrevistas publicados nos jornais. Também há o pedido de impeachment assinado pelos mais conceituados advogados do país. E, para terminar, o presidente da OAB, Rubens Approbato, diz, na presença de FHC durante posse do novo presidente do Supremo, que o governo tem uma "despótica forma de legislar".

Não há dúvidas de que FHC passa por seu pior momento. Há até quem acredite que seu governo já acabou e que o próximo ano e meio será apenas uma luta para minimizar os efeitos da crise energética sobre a economia.

Seria um final triste para o primeiro presidente democraticamente eleito a concluir o mandato desde Juscelino Kubitschek. E lá se vão mais de 40 anos.

Mas o que deu errado com o governo FHC? Apagões à parte, quanto ele está sendo julgado não por seus feitos, mas principalmente pelo que não correspondeu à enorme expectativa que acompanha seu mandato.

Afinal, Fernando Henrique chegou ao Planalto com várias credenciais. É, sem dúvida, mais preparado intelectualmente que seus antecessores e que os postulantes a seu cargo a partir de 2002.

Tinha um histórico político coerente e seu programa de governo parecia ir ao encontro do que almejava a maioria: mais investimentos sociais, melhor inclusão do país no mundo etc.

Mas isso trouxe também uma expectativa enorme. Para muitos, o fato de termos um presidente qualificado e com apoio popular bastava para acreditar que tudo seria diferente e que, enfim, tiraríamos o pé da lama.

Não foi o que aconteceu. E, em vez de estarmos melhor em todos os aspectos, estamos apenas "menos pior".

Por exemplo, o número de alfabetizados e de crianças nas escolas aumentou, mas a qualidade dessas escolas ainda está abaixo do aceitável e muitos dos que constam dos censos como alfabetizados mal sabem escrever o próprio nome.

A saúde melhorou, mas tão pouco que mesmo a classe baixa não pensa hoje em abandonar os planos de saúde.

E é o mesmo com praticamente todos os setores. Os números podem mostrar melhoras, mas a sensação é que tudo está como antes, ou pior.

Além disso, o governo fez alianças com partidos e políticos retrógrados e adotou uma forma de governar que está a anos-luz daquilo o que pensa grande parte de seus eleitores e apoiadores.

E é por isso que existe hoje essa saraivada de críticas: o governo FHC disseminou a frustração. Fosse alguém em quem ninguém colocasse nenhuma esperança, ele hoje estaria mais bem avaliado.

Só para comparar, basta fazer um exercício de história. Imagine se Tancredo Neves não tivesse morrido em 1985 e concluísse seu mandato com os mesmos resultados pífios de José Sarney. Ficaria com uma avaliação ainda pior que a do maranhense e seria lembrado como um dos piores presidentes da história do país, porque também carregava esperanças enormes.

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Você acha que FHC está sendo mais criticado pelo que fez ou por não ter correspondido às expectativas que tinham dele?
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Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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