Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

30/06/2001

Um garotinho para bagunçar a corrida presidencial

Falta mais de um ano para a eleição presidencial no Brasil. Mas quase não se fala em outro assunto no país. São partidos buscando alianças, outros apresentando programas e o governo vendo o avanço da oposição e à procura de algo que alavanque a candidatura José Serra.

Mas não é do governo que saem os "lides" (jargão jornalístico que significa o principal de uma notícia). Sai da oposição e de seus múltiplos candidatos.

O mais novo é o fenômeno Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro. Com menos de um mês de pré-candidatura nas ruas, ele já alcança 11% das intenções de voto, estando tecnicamente empatado com Ciro Gomes e Itamar Franco na segunda posição, atrás de Lula. No Rio, onde é mais conhecido, ele aparece em primeiro lugar, com 39% das intenções de voto. Lula vem em segundo, com 27%. Ciro tem 11%, e Itamar, 6%.

Outro fato pró-Garotinho é a comparação entre a pesquisa realizada pelo Datafolha entre os dias 25 e 28 de junho e outra de março. Só o governador do Rio e Lula sobem. Ciro e Serra caem, e Itamar fica estagnado.

Mas quem é esse Garotinho, que chega atropelando? Quase desconhecido fora do Rio, ele possui uma biografia extensa e curiosa. Tem apenas 41 anos, é ex-aluno de teatro (não concluiu nenhum curso superior) e hoje é evangélico. Foi radialista popular, escreveu livros de cordel, de poesia, de frases de pára-choques de caminhão e até de culinária.

Neste ano, lançou o último livro: "Virou o Carro, Virou Minha Vida", no qual conta sua conversão religiosa _ passou a ser evangélico após ter "uma visão" quando se recuperava em um hospital de acidente automobilístico.

Não esconde sua posição religiosa e até discursa com a Bíblia na mão. Também não esconde o amor à família, dedicando as poesias à mulher. Tem nove filhos e dá aulas em cursos para casais.

Politicamente, começou no PT em 1982, quando tentou sem sucesso ser vereador em Campos, município no norte fluminense. Passou também pelo PDT e agora está no PSB.

Quase só teve experiências no Executivo. Foi duas vezes prefeito de Campos, secretário da Agricultura do governo Leonel Brizola (1991-1994) e governador do Estado, sendo eleito com 58% dos votos em 1998. No Legislativo, foi eleito deputado estadual pelo PDT em 1986, deixando a Assembléia dois anos depois para se candidatar a prefeito.

Agora quer mais. E não poupa adversários para isso. Principalmente Itamar e Ciro, de quem pode roubar mais votos. Diz que os dois são "FHCs recauchutados".

Também ataca o governo e até promoveu manifestação no Rio contra a crise energética. Em uma entrevista na sexta-feira, foi para cima de FHC e da equipe econômica, que ele culpa pelos problemas do Brasil. E saiu com números que fariam corar muitos economistas. Disse que o Brasil precisa de juros de 4% ao ano (hoje estamos em 18,25%) e conseguir crescer 7% (a previsão para este ano está em 2,8%). Mas não deu a receita para essa equação.

Está certo que a campanha de Garotinho sofreu um baque, quando a Justiça proibiu que ele continuasse com programas na rádio e na TV, considerados campanhas eleitorais.

Mas ele continua na luta. Promete visitar todos os Estados para se mostrar. Conta já com a simpatia dos evangélicos pelo país e torce para a popularidade de Fernando Henrique continuar caindo.

Como fez na campanha de 98 no Rio, deve vender "esperanças". E vai encontrar um terreno fértil, uma vez que os dados econômicos e a crise energética fazem crescer os desesperançados no país.

Que Itamar e Ciro se cuidem.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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