Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

08/07/2001

Marta, tome cuidado. O perigo está bem perto

Marta Suplicy precisa se preparar. Se os primeiros seis meses de governo foram quase calmos, a partir de agora as coisas vão mudar e piorar. Ela reclama que a oposição do PSDB está transformando sua vida num inferno, mas a principal pressão deverá vir de seu próprio partido, o PT.

A razão é óbvia. A administração Marta, da maior cidade do país, precisa ser usada pelo partido como uma vitrine para a eleição presidencial no ano que vem. Mas não há vitrine com uma avaliação tão ruim como a que Marta tem hoje entre os eleitores de São Paulo (42% consideram seu governo ruim ou péssimo). Por isso, o partido vai atormentar a prefeita para que faça o possível e o impossível para reverter essa avaliação. Se ela pensava ter quatro anos para mostrar serviço, vai perceber que terá muito menos tempo.

Só para ter uma idéia, Marta deveria recordar 1989. Perceberia muitas coincidências. A então petista Luiza Erundina estava em seu primeiro ano de governo, também com avaliação baixa (em junho daquele ano, 33% consideravam sua administração ruim ou péssima), e Lula tentava ser o eleito no primeiro pleito direto para presidente após o período militar.

O partido foi para cima da prefeita. Cobrava ações, criticava secretários, detonava principalmente o departamento de imprensa da prefeitura, responsável, em parte, pela imagem da administração.

Lula perdeu, e nunca ninguém saberá qual foi a influência da impopular administração de Erundina na derrota. Certamente muito pouca, comparada a outros fatos como a própria postura de Lula no final da campanha, ao último debate com Fernando Collor, à edição do debate feita pela Rede Globo, e ao grande medo que existia de uma administração de esquerda.

Mesmo depois, a pressão sobre Erundina não arrefeceu. No ano seguinte, 1990, havia outra eleição, para o governo do Estado, e lá estava de novo o PT buscando ganhar com Plínio de Arruda Sampaio. E lá estava o governo Erundina servindo de vidraça, não de vitrine, para o partido. Mais intromissão, pressão e desentendimento, com a prefeita até ameaçando deixar o partido.

Plínio perdeu, novamente não foi culpa de Erundina. Mas ela acabou o governo em pé de guerra com o partido.

Agora é a vez de Marta. Por isso, ela que se prepare. Porque vai ter que se acostumar a ter todo um partido nos seus calcanhares. O problema é que ela não poderá fazer como faz com a oposição, que é mais fácil de desqualificar com críticas na imprensa. Sua irritação terá que ser contida. Caso contrário, será usada como mais um ponto contra Lula. Não faltarão oponentes para dizer: "Veja, nesse partido (o PT) eles nem se entendem entre eles".

O inferno apenas começou.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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