Vaguinaldo Marinheiro
15/07/2001
Alguns sentem pena dos argentinos. Outros um certo prazer, devido às antigas rivalidades. Mas tudo isso parece o roto zombando do rasgado, porque a situação no Brasil é ainda pior: todas as crises, nacionais ou internacionais, dão a sensação de que nem no final deste novo século vamos estar entre os países decentes do TERCEIRO MUNDO.
O novo relatório do Índice de Qualidade de Vida (IDH) da ONU, divulgado na terça-feira, só veio abalar ainda mais a nossa auto-estima: há pelo menos 68 países onde a qualidade de vida é melhor que no Brasil.
Inclua nesse grupo países que foram devastados por guerras, como o Líbano e a Croácia, e até a Colômbia, com mais de quatro décadas de guerrilhas.
Por falar em Colômbia, segundo os dados da ONU, a qualidade de vida no Brasil é pior que em pelo menos 12 países da América Latina e Caribe.
Mas por que o espanto com os números do IDH? Eles só comprovam o que vemos nas ruas ou em imagens de TV. Quem viu, por exemplo, as cenas de pavor e corre-corre nas ruas de Salvador devido à greve das polícias Civil e Militar no Estado pode imaginar que estamos bem no ranking da ONU. Aquilo era a barbárie.
E nem é preciso ir tão longe. Qualquer classe-média paulistano desacostumado a andar pelo centro da cidade deveria ir passear durante a semana pela praça do Patriarca (a metros do ponto zero) para ver que o Brasil só estaria bem em um ranking que englobasse apenas os países mais pobres e populosos do sudeste asiático ou da África. A praça é o reino de camelôs, sem-teto e indigentes.
Há solução? Sim, e os caminhos todos sabem. Melhor distribuição de renda, melhor acesso à educação, à saúde etc. Mas tudo neste país é feito de forma tão lenta e descontinuada que não há mesmo muita razão para esperança.
Ao menos os argentinos viveram a ilusão de fazer parte do Primeiro Mundo. Aqui, mesmo aqueles que vivem nos redutos abastados têm que voltar à realidade quando nos semáforos a pobreza vem bater no vidro para pedir dinheiro.
É muito duro ser brasileiro
Muito se tem falado que a crise econômica na Argentina faz com que os portenhos percebam que não moram num país do Primeiro Mundo, mas aqui mesmo, na América Latina, que parece fadada a viver no atraso.Alguns sentem pena dos argentinos. Outros um certo prazer, devido às antigas rivalidades. Mas tudo isso parece o roto zombando do rasgado, porque a situação no Brasil é ainda pior: todas as crises, nacionais ou internacionais, dão a sensação de que nem no final deste novo século vamos estar entre os países decentes do TERCEIRO MUNDO.
O novo relatório do Índice de Qualidade de Vida (IDH) da ONU, divulgado na terça-feira, só veio abalar ainda mais a nossa auto-estima: há pelo menos 68 países onde a qualidade de vida é melhor que no Brasil.
Inclua nesse grupo países que foram devastados por guerras, como o Líbano e a Croácia, e até a Colômbia, com mais de quatro décadas de guerrilhas.
Por falar em Colômbia, segundo os dados da ONU, a qualidade de vida no Brasil é pior que em pelo menos 12 países da América Latina e Caribe.
Mas por que o espanto com os números do IDH? Eles só comprovam o que vemos nas ruas ou em imagens de TV. Quem viu, por exemplo, as cenas de pavor e corre-corre nas ruas de Salvador devido à greve das polícias Civil e Militar no Estado pode imaginar que estamos bem no ranking da ONU. Aquilo era a barbárie.
E nem é preciso ir tão longe. Qualquer classe-média paulistano desacostumado a andar pelo centro da cidade deveria ir passear durante a semana pela praça do Patriarca (a metros do ponto zero) para ver que o Brasil só estaria bem em um ranking que englobasse apenas os países mais pobres e populosos do sudeste asiático ou da África. A praça é o reino de camelôs, sem-teto e indigentes.
Há solução? Sim, e os caminhos todos sabem. Melhor distribuição de renda, melhor acesso à educação, à saúde etc. Mas tudo neste país é feito de forma tão lenta e descontinuada que não há mesmo muita razão para esperança.
Ao menos os argentinos viveram a ilusão de fazer parte do Primeiro Mundo. Aqui, mesmo aqueles que vivem nos redutos abastados têm que voltar à realidade quando nos semáforos a pobreza vem bater no vidro para pedir dinheiro.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br |