Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

29/07/2001

FHC, afinal é cedo ou tarde?

Os membros do governo federal adoram dizer que é prematura a discussão sobre a eleição presidencial de 2002. Lembram que ainda falta um ano e meio para FHC deixar a Presidência e que todo esse jogo político buscando o sucesso nas urnas no ano que vem só atrapalha.

Mas quem fala mais sobre o assunto hoje em dia do que esses mesmos membros do governo federal? O ministro da Fazenda, Pedro Malan, insistiu sexta-feira na tese de que é cedo para tratar de eleição. Mas disse isso após fazer um discurso em que "alertava" para os problemas que viriam com a ascensão ao poder "do maior partido da oposição", isto é, o PT.

Depois vem Fernando Henrique criticar a precocidade do debate eleitoral. Mas não pára de dizer que prefere Lula a Ciro Gomes ou Itamar, para em seguida dizer que Lula é despreparado.

Por que essa aparente ambiguidade de discurso? O governo quer ou não quer a discussão eleitoral já?

Na verdade quer a discussão, mas guiada pelo próprio governo e restrita a seus membros.

A razão é simples: como hoje não têm candidato forte nem poder de influenciar o eleitorado, o PSDB e seus aliados buscam minar todas as frentes de oposição, para enfraquecê-las. Então vale Malan falar dos perigos que representam uma candidatura de Lula. Isso significa dizer: "nem pensem em apoiar esse candidato (ou ainda pré-candidato), porque isso seria um retrocesso para o país e porque os investidores estrangeiros fugiriam daqui com o medo de um calote da dívida".

Afinal, quem melhor para falar sobre os temores dos investidores estrangeiros que o ministro que gasta quase todo o seu tempo tomando medidas justamente para não assustar esses investidores?

E também vale FHC criticar o nacionalismo festeiro de Itamar (pelo mesmo raciocínio exposto acima) ou comparar Ciro Gomes a Fernando Collor de Mello.

Por outro lado, é melhor adiar a discussão fora do controle do governo porque ela significa apenas críticas duras a FHC.

O problema é que o tempo está passando e será hora de não só desqualificar os candidatos oposicionistas, e de tentar adiar a discussão ampla, mas de definir quem é que entrará na disputa para manter os tucanos e companhia no Planalto.

E é aí que a coisa aperta. O Fernando Henrique 100% confiante (aquele que há duas semanas esbravejava: "Cansei de ganhar de gente que estava na minha frente em pesquisa de opinião") já dá lugar para um mais sensato, que afirma que "a alternância de poder é regra da democracia".

Só falta agora reconhecer que a discussão eleitoral, seja ela em que momento for, e feita por todos, também é regra da democracia.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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