Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

19/08/2001

Um serviço de inteligência para a economia nacional

OK, a verdade não existe. O que acontece é que as pessoas contam o que elas querem que você acredite que seja a verdade. Isso ocorre de uma forma inocente e ingênua numa conversa de bar entre amigos, mas vira profissional, com técnicas e muitas vezes má fé quando praticado por políticos, principalmente aqueles que querem se manter no poder.

Um exemplo disso aconteceu durante a semana. O IBGE divulgou dados que comprovam a freada brusca e acentuada no crescimento brasileiro. No segundo trimestre do ano, o Produto Interno Bruto teve queda de 0,99% em relação aos primeiros três meses. Os culpados seriam a crise energética e o aumento nas taxas de juros.

A inverdade, no caso, não parece estar nos números do IBGE, apesar de alguns membros do governo sugerirem que sim e pedirem mais e mais revisões. Está na reação dentro do próprio governo. Uma reação de "surpresa".

Correndo, Fernando Henrique Cardoso mostrou-se surpreendido com os números e disse que o governo precisa fazer um esforço para retomar o crescimento. A frase dita na quinta-feira foi a seguinte: "Ontem nós tivemos um dado que não foi muito positivo, do segundo trimestre deste ano, e acho que agora temos de nos esforçar para superar este momento". Reparem bem no "ontem" e no "agora".

Quer disser que o governo só percebeu ontem que a economia estava freando e que só agora tomou consciência de que são necessárias medidas para a retomada do crescimento? Se o governo não consegue fazer um acompanhamento do ritmo da economia brasileira e não tem acesso a números do órgão oficial de estatísticas, estamos pior do que imaginávamos.

E aí, cabe um conselho ao governo, que utilize os R$ 31 milhões gastos com o serviço de "inteligência" do Exército para investigar ONGs e o MST para "investigar" esses órgãos de estatísticas e os setores de infra-estrutura.

Assim, Fernando Henrique não vai ser pego de "surpresa" com os níveis dos reservatórios de água e com a necessidade urgente de medidas de contenção do consumo de energia. Nem com o fato, óbvio para a maioria, de que juros altos e crise energética derrubam o crescimento de qualquer país.

CANDIDATOS A GRANEL
Os jornais vão ter que gastar muito papel e tinta até que o governo e o establishment resolvam de fato que candidato apoiar para 2002. Todos os dias aparecem nomes novos, que surgem de jantares, de propagandas nas televisões etc.

A idéia parece mesmo testar a reação da opinião pública aos nomes. Durante a semana apareceram o presidente da Câmara, Aécio Neves, e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, que foi a estrela de 30 minutos do total de 40 que o PFL teve em horário de propaganda gratuita na televisão.

Aécio, como de praxe, nega que seja candidato. Roseana parece ser o único nome possível do PFL, mesmo que seja para vice.

Os dois não serão os últimos. Governo e empresários vão testar todos os nomes possíveis e alguns inverossímeis até definirem aquele que conseguiria chegar ao segundo turno, contra Lula. Depois, acreditam que fica fácil a vitória.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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