Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

14/10/2001

Vamos ter que aprender a viver na era do medo

A chamada guerra dos EUA contra o terrorismo é uma guerra sem fim. Não há como eliminar o terrorismo porque ninguém sabe onde ele está. Pode se esconder no próprio território americano (com a face de um estrangeiro ou de alguém 100% americano como Timothy McVeigh) ou em qualquer lugar do mundo. Pode atacar sequestrando aviões ou mandando uma carta com um "pó branco", que na verdade contém a bactéria do antraz.

Não basta prender ou matar Osama bin Laden. Ele morto viraria um herói e modelo para muitos outros. Não adianta acabar com a Al Qaeda, sua organização. Surgirão outras.

Essa não é uma luta contra um Estado específico, que pode ser derrotado, como aconteceu nas outras guerras. Além disso, esse inimigo não tem rosto nem uma causa única, por isso não há como aceitar suas reivindicações e é muito mais difícil combatê-lo.

Então, o que será do mundo a partir de agora? O que parece é que vamos ter que aprender a conviver com mais esse medo. A falsa idéia de que existiam lugares seguros e não-seguros acabou.

Se antes tínhamos medo de andar à noite por uma rua escura em São Paulo, talvez agora vamos ter de andar numa manhã em Manhattan. Se antes tínhamos medo de ficar com os vidros do carro abertos nas ruas das grandes cidades, agora muitos vão ter medo de viajar de avião.

Se o medo era abrir um e-mail que pudesse conter um vírus que destruiria os arquivos de nossos computadores (isso agora parece risível), vamos ter medo de abrir envelopes.

Será então um mundo paranóico? Por algum tempo vamos ver esses sinais de histeria. Com suspeitas de antraz aparecendo de costa a costa dos Estados Unidos e também na Europa, qualquer envelope diferente passa a ser uma ameaça. Qualquer movimentação "estranha" num avião será tida como um sequestro.

Claro que as declarações de porta-vozes da Al Qaeda, de que as "tempestades de aviões continuarão sobre os Estados Unidos" ou que os muçulmanos devem evitar andar de avião e morar em prédios altos, só aumentam o pânico.

Mas também é certo que a geração desse pânico é a principal arma dos terroristas neste momento.

Se não é possível enviar uma bomba, que sejam enviadas ameaças, que causam quase o mesmo efeito.

Mas essa histeria vai passar. Mesmo que os atentados ou as ameaças não acabem, as pessoas vão retomar suas vidas. É assim que a humanidade sempre agiu, assimilando e se adequando às novas dificuldades que aparecem.

Assim como tivemos que aprender a fazer sexo seguro, vamos ter que criar proteções extras para essa nova era do medo.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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