Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

11/11/2001

Qual a importância mundial do Brasil num pós-guerra

Os atentados nos Estados Unidos e a guerra contra o terror vão forçar uma nova ordem mundial. Serão definidos quem de fato está no jogo e quem está na periferia do mundo, no máximo fazendo figuração.

Também muda, ainda de forma mais radical, o para onde os olhos dos países desenvolvidos estarão voltados. O novo foco é a Ásia Central e seus países miseráveis, que foram deixados à mingua por muito tempo, criando um terreno fértil para fundamentalistas.

Diante desse novo cenário, as perspectivas para a América Latina não são boas. Entre as periferias do mundo, apenas a África aparece numa situação pior.

Mas e com relação ao Brasil, qual a real importância do país nesse novo mundo? Apesar de recentes esforços, quase nenhuma.

Fernando Henrique vai até a Assembléia Francesa e faz um belo discurso. De um lado, critica os Estados Unidos e sua política externa. De outro, joga para a torcida local e fala bem da França e da Comunidade Européia.

Depois consegue agendar uma reunião com George W. Bush, que se transforma apenas num encontro para fotos.

Por fim abre a Assembléia Geral da ONU. Novamente um bom discurso. Trata de vários assuntos: a guerra contra o terror, a importância da ONU, a necessidade de uma globalização solidária, apelos para que ajudem Angola, Timor Leste etc. e no meio a explicitação das reivindicações do Brasil, entrar para o Conselho de Segurança do órgão e a ampliação do G-7, grupo que reúne as sete maiores economias do mundo e que de fato decide os rumos do planeta.

Foram boas tentativas, mas do que adiantam esses discursos de Fernando Henrique? Talvez apenas para ampliar o cacife pessoal de FHC, que já é maior lá fora que aqui dentro. Que ele é um intelectual e que tem algo a dizer às academias, ninguém duvida. Mas no mundo real, serão levados em conta? Repercutirão? Ajudarão o país a ver atendida sua reivindicação de fazer parte do grupo daqueles que importam? É pouco provável.

O Brasil só vai conseguir respeito e peso internacional quando decidir o que quer ser quando crescer. O país foi sempre avançando aos trancos e barrancos, sem uma política clara de desenvolvimento. Por isso está onde está, atrás de muitos outros países que tinham menos condições que nós.

Já há muito tempo, países antes pobres como a Irlanda ou mesmo a China planejaram seu futuro e hoje exibem índices econômicos que fazem inveja a qualquer diplomata ou ministro brasileiro.

A Irlanda, não os Estados Unidos, é tida como a maior exportadora de software do mundo. Isso porque resolveu investir na formação de profissionais para essa área, deu incentivos e definiu políticas de criação de um parque industrial.

Já a China conseguiu num prazo de 20 anos um crescimento nas suas exportações sete vezes maior que o do Brasil.

Além disso, é duro para o mundo levar a sério um país com os indicadores sociais do Brasil. OK, nos últimos anos aumentou o número de alfabetizados. Mas o que muitos desses alfabetizados sabem além de escrever o nome? A mortalidade infantil caiu, mas ainda estamos piores que muitos países bem mais pobres. Sem falar na desigualdade social que faz o país com uma das maiores populações do mundo ter tanta gente fora das estatísticas de mercado consumidor.

Em resumo: vamos ter uma nova ordem mundial e mais uma vez, apesar de nosso tamanho, devemos ficar de fora. Isso porque discursos são bons e bem-vindos, mas infelizmente não bastam.

PS: Por problemas técnicos, a coluna da semana passada, "O xadrez vietnamita de Bush", ficou no ar incompleto durante todo o domingo (dia 4). Clique aqui para ler o texto na íntegra.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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