Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

09/12/2001

Temos que engolir que somos um país perigoso e de burros

Foi uma semana bem difícil para o Brasil. Nós e o mundo ficamos sabendo que não temos capacidade de ler, ou de compreender o que está escrito, e não entendemos de matemática ou ciência. Também, graças ao assassinato do velejador neozelandês Peter Blake no Amapá, evidenciamos mais uma vez que esse é um país perigoso.

Primeiro a parte educacional. Numa avaliação com estudantes de 15 anos de 32 países, os brasileiros ficaram em último lugar. No quesito compreensão de texto, fomos o único país a não passar do nível um, que significa que apenas somos capazes de fazer uma "conexão simples entre uma informação e seu uso cotidiano". Na análise de matemática e ciência, também ficamos no pé do ranking.

O governo se apressou a justificar que os demais países analisados são desenvolvidos. É verdade, no topo da lista está por exemplo a Finlândia. Mas o Brasil ficou longe também de países que não podem ser considerados ricos, como Polônia, República Tcheca ou Portugal.

Além disso, o Brasil poderia ficar atrás de todos, mas conseguir apenas 396 pontos quando eram possíveis mais de 600 pontos?

No caso policial, a vergonha ganhou ainda mais notoriedade. Peter Blake era uma espécie de "Pelé da vela". Ganhou duas vezes a American's Cup, principal competição de vela do mundo, tinha o recorde de velocidade na volta ao mundo com um veleiro e chegou a ganhar o título de "sir" da rainha Elizabeth 2ª por seus serviços prestados ao iatismo.

Sua morte, ocorrida durante um assalto ao seu barco no Amapá, foi destaque em todos os jornais do mundo. Todos publicaram que "piratas" mataram um dos maiores velejadores do mundo.

É preciso ressaltar que esses fatos não são apenas motivo de vergonha para o Brasil. Trazem também implicações econômicas. Não contar com pessoas educadas afasta investidores do Brasil. Como uma empresa, por exemplo de alta tecnologia, vai querer se instalar no Brasil se não puder contar com mão de obra qualificada, com trabalhadores que consigam ler e entender um manual?

Nesse mundo globalizado, há vários países que oferecem mão de obra tão ou mais barata que a brasileira, mas com melhores condições de servir às empresas.

Já o caso de Blake traz prejuízos às pretensões do Brasil de aumentar o turismo. Por que um americano ou um europeu vai decidir passar as férias por aqui se há balas perdidas no Rio, trombadinhas em São Paulo e piratas que assaltam e matam nos rios amazônicos?

Com baixa educação e perigo, vamos continuar sempre na rabeira do mundo.

RANKING
Veja a relação de países que participaram da avaliação educacional e suas notas

1- Finlândia (546)
2- Canadá (534)
3- Holanda (532)
4- Nova Zelândia (529)
5- Austrália (528)
6- Irlanda (527)
7- Coréia do Sul (525)
8- Reino Unido (523)
9- Japão (522)
10- Suécia (516)
11- Áustria (507)
12- Bélgica (507)
13- Islândia (507)
14- Noruega (505)
15- França (505)
16- Estados Unidos (504)
17- Dinamarca (497)
18- Suíça (494)
19- Espanha (493)
20- República Tcheca (492)
21- Itália (487)
22- Alemanha (484)
23- Liechtenstein (483)
24- Hungria (480)
25- Polônia (479)
26- Grécia (474)
27- Portugal (470)
28- Rússia (462)
29- Letônia (458)
30- Luxemburgo (441)
31- México (422)
32- Brasil (396)
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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