Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

23/12/2001

Nostradamus e o futuro da Argentina e da economia mundial

Um levantamento do site de pesquisas Google mostrou que o termo mais buscado na internet este ano foi Nostradamus. Nem Osama Bin Laden, nem George W. Bush, mas o médico, astrólogo e vidente francês do século 16.

Agora, com esse novo capítulo da crise Argentina, a busca por Nostradamus deve aumentar ainda mais. Pois só através deste que dizem previu a Revolução Francesa no século 18 e o atentado ao papa no século passado poderemos saber o que deve acontecer com o país vizinho e com toda a economia mundial.

Porque não adianta recorrer a economistas, apesar de muitos já iniciaram seus chutes. Já há quem aposte qual vai ser o novo valor do peso quando acabar a conversibilidade de um para um. Falam em desvalorização imediata de 80%, de 40%, qualquer número, dependendo do interlocutar.

Muitos também lançam dados percentuais de hiperinflação, de desemprego e do tempo que deve durar a recessão e sua intensidade.

Mas como acreditar em muitos desses economistas? São os mesmos que diziam maravilhas da política econômica Argentina e até a sugeriam para outros países, inclusive o Brasil.

E mesmo o FMI, de que adianta ouvir seus especialistas agora, se forem eles ou autores do receituário seguido à risca pelos governos argentinos e que levaram o país para onde chegou? O melhor é que fechem logo um novo pacote e dêem o dinheiro para amenizar os efeitos da crise.

Não se trata apenas de demonizar ou ridicularizar os economistas. Todos sabem que a economia não é uma ciência exata. Mas há, claro, um número exagerado de palpiteiros que trabalham com as finanças de países inteiros como se fossem cobaias de laboratório. Sugerem arrochos aqui, privatizações ali, cortes acolá. Se tudo der errado, basta formular outros conceitos para o próximo país/cobaia.

Também há aqueles arautos do apocalipse que vêem cenários terríveis em qualquer situação. Quando o Brasil teve que desvalorizar sua moeda, em janeiro de 1999, muitos diziam que a recessão no país iria durar uns dois, três anos, e que a moeda norte-americana ultrapassaria os R$ 3,00. Nada disso aconteceu, e esses mesmos catastrofistas lançam dessa vez sua prolixidade para comentar a crise argentina.

Ainda é muito cedo para afirmar qual o futuro do país vizinho. Tudo vai depender de como vão se comportar os organismos internacionais como o FMI (dará dinheiro, e quanto?), qual a força política do novo presidente, quais os graus de descontentamente e de paciência do povo argentino e como andará a confiança dos possíveis investidores internacionais nesse futuro governo.

Diante de tantos condicionantes, o melhor mesmo é buscar previsões em Nostradamus. No mínimo, os versos enigmáticos do francês são melhor literatura.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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