Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

06/01/2002

Será que Dutra Pinto era o "homem que sabia demais"?

Talvez nunca se saiba ao certo como morreu Fernando Dutra Pinto, o homem que ficou famoso ao sequestrar a filha de Silvio Santos e ao manter o apresentador como refém.

Aos 22 anos, Dutra Pinto teve uma parada cardiorrespiratória. Foi levado ao hospital, tentaram reavivá-lo, mas não conseguiram. Agora o Instituto Médico Legal vai precisar de alguns dias para concluir os laudos com as possíveis causas da morte.

Podem ter sido causas naturais (é raro, mas possível que uma pessoa tão jovem tenha uma parada cardíaca), envenenamento (como acredita sua advogada), omissão ou negligência médica (hipóteses levantadas por seu irmão).

O problema é que pode ser que nunca se chegue a uma conclusão. Exames preliminares revelaram que não havia drogas ou veneno em seu corpo. Mas o próprio diretor do IML de São Paulo afirmou que, como foram administrados remédios para reanimá-lo, esses medicamentos podem mascarrar o resultado dos exames e esconder um suposto envenenamento.

De qualquer forma, esse é um daqueles casos em que laudos e relatórios finais de investigações policiais não enterram o assunto. Já está criado um daqueles "mistérios policiais" que vão ser comentados por muitos anos. Para isso, contribui o tom mais cinematográfico que alguns querem dar ao caso. A advogado do sequestrador, Maura Marques, por exemplo, disse que ele era um "homem que sabia demais" e que já havia recebido cartas anônimas recomendando que tomassem cuidado com sua comida.

Com tudo isso, se concluírem que a morte foi um acaso, que não houve assassinato, muita gente vai continuar acreditando em crime.

Teria ele sido "apagado" porque sabia do envolvimento de policiais numa tentativa de ficar com o dinheiro pago para libertar Patrícia Abravanel? Seria uma queima de arquivo, porque ele tinha muito a dizer sobre a morte de dois policiais naquele flat em Barueri (mortes atribuídas a ele, fato que sempre negou)? Teria sido morto a mando de organizações criminosas que seriam as mandantes do sequestro? Seria simplesmente uma vingança de policiais porque ele teria matado dois colegas?

Sempre ficarão essas dúvidas. Mas desse caso surge uma certeza: o Estado de São Paulo não consegue manter vivos os seus presos, mesmo aqueles que são importantes para a elucidação de outros crimes, no caso a morte de dois policiais. Porque, ainda que a causa da morte tenha sido natural, no mínimo houve falha no atendimento médico.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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