Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

10/02/2002

"Big Brother", eleição, tudo cheira a falsidade

Muito se tem falado e escrito que no mundo atual, totalmente midiático, as aparências importam mais que a verdade.

Mas nunca isso pareceu tão evidente quanto agora, quando estamos num ano eleitoral e os "reality shows" tomam conta das televisões.

Primeiro as eleições. Qual a grande discussão hoje no mundo político? Seriam os programas de governo dos candidatos? Sua opinião sobre a política econômica que o país tem que seguir? Não. A preocupação é com quem vai trabalhar o publicitário Nizan Guanaes, o "mago" que colocou Roseana Sarney no segundo lugar das pesquisas de intenção de votos com seus programas para a TV em que embalava a pré-candidata com jingles de cerveja.

A dúvida é se ele continua com o PFL ou se passa para a equipe de José Serra, para impulsionar a campanha do ministro.

Nizan, como os outros marqueteiros eleitorais, não precisam se preocupar com o que pensam os candidatos. Importa o que eles aparentam pensar ou ser. A tarefa é transformá-los num produto que o público/eleitor vai comprar. E o principal é que eles pareçam reais, mesmo quando estão apenas interpretando.

No "Big Brother Brasil" não é diferente. Quem acredita que competidores agem naturalmente sabendo que são vigiados por câmeras o tempo todo? Na verdade, cada um cria um personagem e o interpreta, tentando garantir a permanência na casa e a audiência do programa.

E no caso do "reality show" do Globo, a sensação de falsidade é ainda maior. Como ele foi precedido pela "Casa dos Artistas", do SBT, os competidores e os diretores do programa já sabem o que pega bem com o público.

Como o casal Bárbara Paz e Supla virou o queridinho dos telespectadores na "Casa dos Artistas", a ponto de os dois disputarem a final, logo no início do "Big Brother" surgiu o primeiro casal (Xaiane e Kleber).

Como as cenas "debaixo do edredom" eram as mais comentadas da "Casa", elas agora ocupam grande espaço no "BBB".

Um otimista deve supor que essa enorme quantidade de interpretações e os personagens tomando o lugar de personalidades reais vão causar uma saturação no público e ele vai aprender a enxergar as falsidades e apostar/votar nos verdadeiros.

Já o pessimista vai acreditar que logo veremos candidatos aparecendo na TV sob edredons.

É esperar para ver quem tem razão.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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