Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

17/02/2002

Chuva, chuva de desculpas, chuva de promessas

É irritante falar dos problemas causados pelas chuvas em São Paulo. Irritante porque você pode escrever o mesmo texto todos os anos. As causas são as mesmas. As explicações, também. Assim como se repetem as diferenças entre o que foi orçado em obras contra enchentes e o que foi efetivamente usado (nunca superior a 40% do valor original).

Desta vez, a chuva de quarta-feira (dia 13) fez córregos transbordaram e arrastarem carros na zona leste. Quais foram as desculpas: primeiro choveu mais do que estavam esperando; depois, a culpa é do governo X que não repassou verbas para o governo Y, que por vez não cumpriu prazos para que o X liberasse o dinheiro para o Y.

E daí, perguntam os atingidos, que pagam impostos para o governo X, para o Y e para o Z.

Outra coisa que se repete é a correria pós-chuvas para a liberação de verbas. Na quinta-feira, o ministro da Integração Nacional, Ney Suassuna, visitou São Paulo, sobrevoou a cidade por 20 minutos e prometeu (só agora) repassar R$ 40 milhões para a construção de piscinões na região do córrego Aricanduva, a mais atingida pelas enchentes da quarta.

Por que só agora? Essa liberação sairá mesmo? Será usada corretamente? Evitará novos problemas no ano que vem? Vamos ter que esperar um ano para obter as respostas para todas essas perguntas. Até lá as promessas serão de novo esquecidas e aparecerão novas, feitas de afogadilho.

No caso específico da Prefeitura de São Paulo, parece irônico que além das muitas desculpas a prefeita Marta Suplicy resolva dizer que o plano municipal antienchente é um "paliativo péssimo". Se é, por que não foi alterado? Por que não é adotado ao menos um "paliativo aceitável"? São mais perguntas sem respostas.

Certamente os eleitores esperavam respostas e algo mais que desculpas da administração Marta. Esperavam ações. Mas, após mais de um ano de governo, ela parece continuar a acreditar que sua grande obra é a honestidade (ao menos até agora não há denúncias de seu envolvimento com roubalheiras ou esquemas de corrupção).

Só que, mesmo tendo antecessores com suas probidades sendo contestadas por ações judiciais, a prefeita precisa saber que honestidade não é obra para se vangloriar, é obrigação de qualquer governante.

Quando os paulistanos votaram nela, esperavam que ele construísse uma cidade melhor e minorasse os problemas. Isso, até agora, continuam esperando. E debaixo de chuva.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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