Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

24/02/2002

As eleições na França e no Brasil

A França faz eleições presidenciais no próximo dia 21 de abril e só na quarta-feira passada (dia 20) o atual primeiro-ministro, Lionel Jospin, lançou sua candidatura. Ou seja, apenas dois meses antes do pleito.

O outro candidato, o atual presidente, Jacques Chirac, também só anunciou sua candidatura neste mês. Isso significa que a campanha mesmo só começa agora.

É interessante comparar o que acontece lá e o que ocorre por aqui, onde há pré-candidaturas com mais de um ano (e ainda estamos a mais de sete meses da nossa eleição).

Há no caso brasileiro dois aspectos negativos. Um é o fato de que pré-candidatos com cargos eletivos deixam de lado suas funções para cuidar da eleição. O outro é que essa campanha extensiva não é acompanhada de um aprofundamento das questões que de fato interessam.

Peguemos o primeiro aspecto. Há entre os pré-candidatos à Presidência do Brasil quatro com cargos eletivos, e qualquer um que acompanha os noticiários sabe o que eles andam fazendo ultimamente.

Roseana Sarney (PFL) passa mais tempo em viagens para São Paulo, Rio ou Distrito Federal que em seu Estado, o Maranhão. Na semana que passou, por exemplo, ela ficou no Rio, onde tinha compromissos "importantes" como se encontrar com o carnavalesco Joãosinho Trinta.

O mesmo acontece com Anthony Garotinho (PSB), que em viagens ou no Estado usa muito de seu tempo em busca de alianças políticas.

José Serra (PSDB) deixou na quinta-feira o Ministério da Saúde. Diz que agora vai cuidar da campanha. Mas foi para o Senado. Ou seja, continua se mantendo num cargo público enquanto trata de seu futuro político.

Por último fica Itamar Franco (PMDB), que já viajou muito, mas agora parece mesmo ter desistido de continuar na disputa.

Há ainda o caso de Jorge Bornhausen. O presidente do PFL não é candidato, mas nós últimos tempos ocupa toda sua agenda com conversações a respeito da candidatura de Roseana Sarney. Tanto que agora (ou seria melhor disser só agora) resolveu pedir licença do Senado.

O segundo aspecto está relacionado ao conteúdo. De que adianta uma campanha de vários meses se esses mesmos candidatos não mostram o que pensam para o eleitorado? Se não usam esse tempo todo para discutir o que interessa ao país?

Experimente perguntar aos eleitores se eles conseguem definir ao menos a posição política desses que vão à TV pedir seus votos.

Voltando ao exemplo francês, lá a maioria sabe o que pensa Jospin e o que pensa Chirac. E, mais importante, lá é possível votar baseado no histórico coerente dos partidos dos dois: o Partido Socialista, de centro-esquerda (de Jospin), e o Reunião Pela República, de centro-direita, (de Chirac).

Isso é possível no Brasil, onde até o PT busca alianças com o PL? Esqueça.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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