Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

10/03/2002

As certezas no caso Roseana/FHC

Ainda não existem provas definitivas do envolvimento de Roseana Sarney com desvio de dinheiro público nem da participação do governo FHC na ação da Polícia Federal, que invadiu o escritório do marido da governadora do Maranhão no dia 1º de março. Mas não faltam "certezas" para os desafetos dos dois lados.

Adversários de Roseana e aqueles que não votam nela dizem que é "claro" que a governadora do Maranhão sabia e participava de esquema de desvio de dinheiro da Sudam. Afinal, se não fosse por isso, por que ela teria pedido a suspensão da investigação do caso pela Justiça de Tocantins? Também acham que é "óbvio" que são esfarrapadas todas as desculpas para justificar a existência de mais de R$ 1,3 milhão em notas de R$ 50 no escritório de Jorge Murad (e foram várias desculpas).

Outra "prova" seria a reação intempestiva da candidata do PFL, exagerada para quem não teria nada a temer.

Do outro lado, entre aqueles do grupo do "hay gobierno, soy contra", é "claro" que Fernando Henrique Cardoso sabia e orquestrou a ação da Polícia Federal. Afinal, isso desgastaria Roseana e favoreceria seu candidato, José Serra. Também é "óbvio" que a PF (órgão subordinado ao Ministério da Justiça) não faria uma ação contra uma governadora da base aliada do governo sem comunicar o chefe.

Outra "prova" seria o fato de o diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho, ser filiado ao PSDB.

É fácil acreditar que todos esses "claros" e "óbvios" sejam verdadeiros porque fazem sentido, mas ainda não há como provar nada judicialmente. E, relembrando outros exemplos da história do Brasil, pode ser que nunca apareçam provas, mesmo que elas existam. Não se esqueçam que nem Fernando Collor foi condenado pela Justiça no escândalo do caso PC.

Mas, se não há provas, no que resultará esse caso? Recorrendo de novo à história, provavelmente em nada. Só que, mais uma vez, há muitas "certezas" dos dois lados.

Os pró-Roseana estão "certos" de que a governadora sai vitoriosa: mostrou força ao exigir, e conseguir, que o PFL deixasse o governo e pode também assumir o ar de vítima e de perseguida por um governo que não mediria esforços para ganhar essa eleição.

Os anti-Roseana estão "seguros" que ela perdeu, uma vez que haverá sempre a desconfiança de envolvimento no esquema de corrupção.

Como todas essas "certezas" podem estar muito perto ou muito longe da verdade, é esperar para ver.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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