Vaguinaldo Marinheiro
24/03/2002
Mesmo dia, mesmo horário: a entrada da maior universidade do país (a USP, em São Paulo) está fechada por manifestantes, que também fazem passeatas. Não há aulas, o trânsito fica complicado e o congestionamento vai da zona oeste de São Paulo até Barueri.
Como a maior cidade do país vive em eterno estado de pré-caos, só essas duas manifestações causam o quarto maior congestionamento do ano. São 120 quilômetros de engarrafamentos (20 a mais do que o habitual). Estradas e avenidas param, pessoas chegam atrasadas ao trabalho, outras perdem aula, horários em médico etc. Todos ficam "irritados" (eufemismo para não usar um palavrão).
Qual a razão da manifestação? A maioria nem soube. Mas a CUT havia decidido protestar contra a proposta do governo de mudar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Queria chamar atenção e para isso buscou ações que causassem grande transtorno mesmo com pequena adesão. Um exemplo foi a manifestação que atrapalhou tanta gente a caminho do aeroporto de Cumbica, que contou com menos de cem pessoas.
Tudo bem que a central sindical tenha uma opinião divergente do governo e da Força Sindical, que apóia as mudanças nas leis trabalhistas. Tudo bem também que queira mostrar ao maior número de pessoas essa sua discordância. Mas por que atrapalhar a vida de todo mundo para isso? Será que algum dirigente da CUT acredita que ganhou simpatizantes para a sua causa com os transtornos?
O que se ouvia e via nas ruas eram frases e rostos irados. E entre os irados estavam os "burgueses" dentro dos carros (que talvez não sejam importantes para a CUT), mas também os "proletários" dentro dos ônibus (que da mesma maneira ficavam parados no trânsito).
E é nessa hora que todos se perguntam: a intenção é mesmo mostrar uma divergência e abrir uma discussão ou apenas promover o caos, principalmente num ano eleitoral?
Se a primeira opção fosse a correta, então por que não encontrar uma forma de chamar a atenção sem atrapalhar a vida das pessoas? Por que não fazer uma performance com mulheres nuas ou com go-go boys? Por que não organizar um show musical, um evento esportivo, um sei-lá-o-que que conseguisse a visibilidade pretendida e ao mesmo tempo atraisse a adesão de alguns para a idéia defendida.
Mas existe essa insistência em passeatas ou fechamento de vias importantes, o que nos leva a pensar em duas opções: 1) falta criatividade a esses manifestantes ou 2) o que eles querem mesmo é irritar o máximo de pessoas.
Talvez não seja "ou" a melhor conjunção neste caso, mas "e". Falta criatividade e eles gostam mesmo de ser irritantes.
Por que não usar mulheres nuas para protestar?
Manhã de quinta-feira, 21 de março de 2002: passageiros e tripulação não conseguem chegar ao maior aeroporto do Brasil (Cumbica, em São Paulo) porque a via de acesso está bloqueada por manifestantes. Há atrasos em pelo menos 15 saídas. Centenas de pessoas perdem seus vôos.Mesmo dia, mesmo horário: a entrada da maior universidade do país (a USP, em São Paulo) está fechada por manifestantes, que também fazem passeatas. Não há aulas, o trânsito fica complicado e o congestionamento vai da zona oeste de São Paulo até Barueri.
Como a maior cidade do país vive em eterno estado de pré-caos, só essas duas manifestações causam o quarto maior congestionamento do ano. São 120 quilômetros de engarrafamentos (20 a mais do que o habitual). Estradas e avenidas param, pessoas chegam atrasadas ao trabalho, outras perdem aula, horários em médico etc. Todos ficam "irritados" (eufemismo para não usar um palavrão).
Qual a razão da manifestação? A maioria nem soube. Mas a CUT havia decidido protestar contra a proposta do governo de mudar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Queria chamar atenção e para isso buscou ações que causassem grande transtorno mesmo com pequena adesão. Um exemplo foi a manifestação que atrapalhou tanta gente a caminho do aeroporto de Cumbica, que contou com menos de cem pessoas.
Tudo bem que a central sindical tenha uma opinião divergente do governo e da Força Sindical, que apóia as mudanças nas leis trabalhistas. Tudo bem também que queira mostrar ao maior número de pessoas essa sua discordância. Mas por que atrapalhar a vida de todo mundo para isso? Será que algum dirigente da CUT acredita que ganhou simpatizantes para a sua causa com os transtornos?
O que se ouvia e via nas ruas eram frases e rostos irados. E entre os irados estavam os "burgueses" dentro dos carros (que talvez não sejam importantes para a CUT), mas também os "proletários" dentro dos ônibus (que da mesma maneira ficavam parados no trânsito).
E é nessa hora que todos se perguntam: a intenção é mesmo mostrar uma divergência e abrir uma discussão ou apenas promover o caos, principalmente num ano eleitoral?
Se a primeira opção fosse a correta, então por que não encontrar uma forma de chamar a atenção sem atrapalhar a vida das pessoas? Por que não fazer uma performance com mulheres nuas ou com go-go boys? Por que não organizar um show musical, um evento esportivo, um sei-lá-o-que que conseguisse a visibilidade pretendida e ao mesmo tempo atraisse a adesão de alguns para a idéia defendida.
Mas existe essa insistência em passeatas ou fechamento de vias importantes, o que nos leva a pensar em duas opções: 1) falta criatividade a esses manifestantes ou 2) o que eles querem mesmo é irritar o máximo de pessoas.
Talvez não seja "ou" a melhor conjunção neste caso, mas "e". Falta criatividade e eles gostam mesmo de ser irritantes.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br |