Vaguinaldo Marinheiro
21/04/2002
Diante disso, cabe uma outra pergunta: e os países da América Latina, já sabem como lidar com os Estados Unidos, principalmente depois da chegada de Bush ao poder, dos atentados de 11 de setembro e de os Estados Unidos terem assumido sem disfarces sua política de império mundial?
A resposta parece ser não, e a razão pode ser a falta de parâmetros, uma vez que dois países trataram e tratam os Estados Unidos de maneira oposta, e vivem hoje uma situação de crise sem solução a curto prazo.
Um país é a Argentina, que adotou há muito tempo a política do "yes man". Seus presidentes fizeram tudo o que quiseram o governo norte-americano e seu braço econômico, o FMI. Para agradar aos EUA, a Argentina chegou até ao ridículo de enviar fragatas para a Guerra do Golfo.
No que isso deu? Numa ascensão ao Primeiro Mundo, como gostariam os argentinos? Não. O país hoje só vê crescer seu número de miseráveis. Além disso, o governo emenda pacotes econômicos e feriados bancários uns aos outros sem vislumbrar uma saída.
Com certeza os argentinos esperavam a ajuda dos Estados Unidos, numa retribuição ao trabalho de casa feito, mas ouviram seguidos nãos. E o secretário do Tesouro americano, Paul O`Neill , chegou a dizer que não irá usar o dinheiro de trabalhadores americanos, que se esforçam, para ajudar países em dificuldades.
Do outro lado está a Venezuela. Lá, o presidente Hugo Chávez resolveu fazer a política de irritar os Estados Unidos. Aprovou medidas contrárias a empresas multinacionais e se aproximou de "inimigos" dos americanos, como o cubano Fidel Castro e o iraquiano Saddam Hussein.
O que ganhou com isso? Ajuda para melhorar a vida dos mais de 60% de venezuelanos que vivem abaixo da linha de pobreza é que não foi. Até porque dinheiro também está em falta na casa desses "inimigos" dos EUA.
Na verdade o que Chávez ganhou foi um golpe relâmpago, que se não contou com o incentivo direto dos Estados Unidos teve no mínimo sua conivência. E mesmo que o golpe não tenha deixado Chávez fora da Presidência por muito tempo (48 horas), acabou reduzindo ainda mais as suas forças.
Nesse processo de conhecimento mútuo, talvez os países latino-americanos só aprendam a lidar com os EUA quando perceberem que o primo rico está aqui para impor sua maneira de ver o mundo, e que isso não significa, nem no caso da aceitação incondicional, ajuda para sair do buraco.
Já do lado dos norte-americanos, talvez aprendam, ao menos com o caso Chávez, que as democracias no subcontinente estão um pouco mais alicerçadas.
Como a América Latina deve tratar o Império Americano
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou em uma entrevista ao jornal britânico "Financial Times", publicada na sexta-feira, que o governo de George W. Bush "ainda está num estágio de aprendizado em termos de como lidar com a América Latina".Diante disso, cabe uma outra pergunta: e os países da América Latina, já sabem como lidar com os Estados Unidos, principalmente depois da chegada de Bush ao poder, dos atentados de 11 de setembro e de os Estados Unidos terem assumido sem disfarces sua política de império mundial?
A resposta parece ser não, e a razão pode ser a falta de parâmetros, uma vez que dois países trataram e tratam os Estados Unidos de maneira oposta, e vivem hoje uma situação de crise sem solução a curto prazo.
Um país é a Argentina, que adotou há muito tempo a política do "yes man". Seus presidentes fizeram tudo o que quiseram o governo norte-americano e seu braço econômico, o FMI. Para agradar aos EUA, a Argentina chegou até ao ridículo de enviar fragatas para a Guerra do Golfo.
No que isso deu? Numa ascensão ao Primeiro Mundo, como gostariam os argentinos? Não. O país hoje só vê crescer seu número de miseráveis. Além disso, o governo emenda pacotes econômicos e feriados bancários uns aos outros sem vislumbrar uma saída.
Com certeza os argentinos esperavam a ajuda dos Estados Unidos, numa retribuição ao trabalho de casa feito, mas ouviram seguidos nãos. E o secretário do Tesouro americano, Paul O`Neill , chegou a dizer que não irá usar o dinheiro de trabalhadores americanos, que se esforçam, para ajudar países em dificuldades.
Do outro lado está a Venezuela. Lá, o presidente Hugo Chávez resolveu fazer a política de irritar os Estados Unidos. Aprovou medidas contrárias a empresas multinacionais e se aproximou de "inimigos" dos americanos, como o cubano Fidel Castro e o iraquiano Saddam Hussein.
O que ganhou com isso? Ajuda para melhorar a vida dos mais de 60% de venezuelanos que vivem abaixo da linha de pobreza é que não foi. Até porque dinheiro também está em falta na casa desses "inimigos" dos EUA.
Na verdade o que Chávez ganhou foi um golpe relâmpago, que se não contou com o incentivo direto dos Estados Unidos teve no mínimo sua conivência. E mesmo que o golpe não tenha deixado Chávez fora da Presidência por muito tempo (48 horas), acabou reduzindo ainda mais as suas forças.
Nesse processo de conhecimento mútuo, talvez os países latino-americanos só aprendam a lidar com os EUA quando perceberem que o primo rico está aqui para impor sua maneira de ver o mundo, e que isso não significa, nem no caso da aceitação incondicional, ajuda para sair do buraco.
Já do lado dos norte-americanos, talvez aprendam, ao menos com o caso Chávez, que as democracias no subcontinente estão um pouco mais alicerçadas.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br |