Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

05/05/2002

Lula, Serra e os especuladores internacionais

A semana foi de acompanhar a política brasileira pelos olhos de bancos e investidores internacionais. Foi do que se falou. Não de propostas efetivas ou da busca de alianças e vices, mas se existe ou não o medo desses investidores (ou especuladores) de uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva este ano.

A ação efetiva desses investidores no jogo eleitoral aconteceu por meio de análises de economistas de alguns bancos (Merrill Lynch, Morgan Stanley, ABN Amro Bank e Santander), que aconselharam seus clientes a terem mais cautela nos investimentos no Brasil. Segundo eles, Lula está próximo de uma vitória e isso trará incertezas ao mercado e o risco de perder dinheiro.

As análises logo derrubaram a Bolsa de São Paulo (mais de 4% na quinta-feira), elevou o dólar e fez aumentar o risco-país do Brasil (o que significa pagar um juro maior ao negociar títulos brasileiros no exterior).

Diante dos fatos, e dos seus efeitos, cabe perguntar: afinal, o que querem os bancos? Será que querem mesmo a vitória do governista José Serra, que representaria a continuidade da política econômica de FHC? Se a resposta é sim eles podem estar dando um tiro no pé.

Ninguém é mais prejudicado que Serra com a deterioração da economia brasileira (que é o efeito imediato dessas análises). Se o dólar e a inflação continuarem a subir e se a Bolsa, a atividade industrial e, conseqüentemente, o emprego continuarem a cair não vai haver eleitor para apostar na "continuidade com mudanças" de Serra.

As chances de Serra, é sabido por todos, estão diretamente ligadas à existência de um bom desempenho do governo FHC. E bom desempenho significa fatores econômicos, uma vez que na área social a situação está ainda mais difícil.

Além disso, essa ação dos bancos também desencadeia um sentimento de aversão em parte do eleitorado. Foi fácil ouvir na semana algumas muitas pessoas dizendo "eles querem definir a política em nosso país. Onde está nossa soberania? Não ia votar em Lula, agora vou."

Ou seja, temer a vitória de Lula pode ajudá-la.

Mas talvez esses investidores/especuladores estejam nesse momento (a cinco meses das eleições) mais interessados em ganhos de curto prazo. Para isso, basta que "criem" fatos para rebaixar ações e papéis brasileiros hoje para comprá-los barato amanhã.

Quando à eleição, ainda há muito tempo, e como dizem analistas mais ponderados, um governo Lula sem maioria no Congresso não conseguiria mesmo fazer muitas mudanças para atrapalhar o ganho do chamado mercado.

Ou seja, talvez eles estejam usando uma fórmula de ganhar agora e continuar ganhando no futuro.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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