Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

12/05/2002

Candidatos clonados e o vaivém das pesquisas

A última pesquisa Datafolha mostrou que, apesar da histeria do mercado e dos partidos a cada nova sondagem eleitoral, mais de 60% dos eleitores brasileiros não sabem citar espontaneamente em quem vão votar. A razão mais óbvia é que ainda faltam quase cinco meses para as eleições, e muitos só decidem o voto depois do início da propaganda gratuita no rádio e na TV, o que acontece em agosto.

Mas há um outro fator: está difícil diferenciar os candidatos pelos discursos.

Na quinta-feira, os quatro principais pré-candidatos participaram de evento com a nata do empresariado brasileiro. Poderia ser uma oportunidade de tirar dúvidas, avaliar propostas e tentar antever como seria um governo de cada um deles.

Só que Luiz Inácio Lula da Silva, José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes apresentaram na seqüência idéias repetidas. Como a platéia era de empresários, todos definiram como prioridade a retomada do crescimento, o incentivo às exportações, criação de uma política industrial e uma imediata reforma tributária.

Exemplo parecido ocorreu nas festividades do 1º de Maio. Como a platéia era de trabalhadores, todos apresentaram como ação urgente a criação de empregos. E dá para prever que numa discussão com a Igreja Católica as prioridades serão combate à fome e à pobreza.

A impressão é que os pré-candidatos são instruídos por seus marqueteiros a esconder suas identidades, em vez de realçá-las. Como estão em busca de apoio e não querem correr risco, falam apenas aquilo que o interlocutor quer ouvir. Daí todos fazerem discursos parecidos.

O problema é que sem diferenciação de discurso, restaria ao eleitor apenas o histórico dos presidenciáveis, e dos partidos que os apóiam, para ajudá-lo a definir o voto.

Aí aparece o segundo problema. Como definir o histórico de um político brasileiro se ora ele defende uma coisa, ora outra? E como se fiar nos partidos, se eles, com exceção do PT (se bem que também ele está se moldando ao jogo atualmente), a cada eleição mudam de programa e alianças e aceitam integrantes sem nenhuma afinidade ideológica? É mesmo difícil.

É esse cenário sem definição de contrastes que explica os números das pesquisas atuais, com Lula e o PT na frente (pela imagem de coerência que ainda mantêm com parte do eleitorado) e os outros três na gangorra para definir o segundo colocado.

Por quanto tempo isso vai continuar? Só os dossiês, os escândalos ou o tempo na TV irão dizer.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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