Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

19/05/2002

O avanço da "direita" na Europa; o avanço da "esquerda" no Brasil

Ainda que muito desgastados, e com os sentidos um pouco alterados, os termos direita e esquerda, que nasceram com a Revolução Francesa, continuam a ser usados para que possamos entender e representar o mundo.

Tome por exemplo as eleições presidenciais que acontecem em vários países europeus e no Brasil. A Europa vê o crescimento de partidos de extrema direita. Já no Brasil e em outros países da América Latina é a bandeira da esquerda que ganha terreno. Basta notar que os quatro reais candidatos à Presidência no Brasil são de partidos ditos de esquerda ou no mínimo apresentam discursos à esquerda do que foi e tem sido o governo Fernando Henrique Cardoso.

Mas deixando de lado as enormes diferenças entre os dois mundos há ao menos uma demanda básica em comum para os eleitores dos dois lados do Atlântico: melhora na qualidade de vida com a redução da criminalidade e do desemprego.

Acabam aí as semelhanças porque é diametralmente oposta a maneira escolhida para a solução dos problemas.

No Brasil, país de excluídos, seria a inclusão. Na Europa, ao contrário, a exclusão.

Os eleitores dos extremistas europeus já definiram seu alvo. Para eles, os imigrantes são a causa do mal no continente e em seus países em particular. O discurso é que esses imigrantes roubam os empregos dos reais cidadãos, dessacralizam a cultura e, incivilizados, partem para a criminalidade.

A solução: restringir a entrada desses "alienígenas" num primeiro momento, cortar seus direitos e expulsá-los do país, para que seja restabelecida a ordem. E é isso o que prometiam os políticos de extrema direita na Dinamarca, França e agora na Holanda.

No Brasil a questão é diferente. Esse já é um país de excluídos, dos sem-direitos. A maior parte dos brasileiros vive como se não fosse cidadão do país: não tem acesso a boa educação ou saúde, e vive à margem das oportunidades de ascensão social. E seria essa exclusão uma das fomentadoras da violência no Brasil.

Daí o discurso dos candidatos ir na linha de adoção de políticas, muitas apenas assistencialistas, de redução da pobreza e da melhoria das condições de vida geral da população.

Como se vê, no Velho Mundo a direita avança porque acena com o passado, com a restauração da velha ordem. E essa é uma característica dessa facção política.

Por aqui, no Novo Mundo, a promessa é pelo novo, pelo que ainda há por construir, o que caracteriza a esquerda.

Mas há ainda outra diferença fundamental. Essa "esquerda" que cresce no Brasil é aquela que marcha em direção ao centro, a um consenso, que abdica de radicalismo. Daí sua aceitação ampla.

Já na Europa, a direita que avança é a que foge do centro e que pretende medidas heterodoxas. Daí ainda causar horror à maioria.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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