Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

26/05/2002

"Efeito Vampeta" derruba mercados no Brasil

A história republicana do Brasil, desde o início, sempre obrigou todo mundo a entender um pouco de economia para não ficar perdido em meio às notícias. Começou com o encilhamento de Rui Barbosa (ainda no século 19), passou pelas várias mudanças de moeda e pela "inflação" de planos econômicos dos anos 80 e 90.

Agora, mais uma vez a economia e o economês estão na moda, e todos precisam entender o mercado financeiro, os investidores internacionais, razões da subida ou da queda do risco-país porque isso está interferindo diretamente na vida das pessoas e até na disputa eleitoral.

O curioso disso tudo é a quantidade de "razões" ou "efeitos" que influenciam o humor dessa entidade chamada mercado. Também curioso é que um "efeito" que parece negativo em um dia volta positivo no dia seguinte.

Nos últimos dias tivemos vários. O primeiro foi o "efeito Lula". A disparada do petista nas pesquisas de intenção de voto seria a justificativa para a subida do dólar, a queda da Bolsa, a explosão do risco-país (índice que mostra a desconfiança do investidor internacional em um determinado país).

Depois veio o "efeito Camata". O mesmo movimento financeiro ocorreu após a definição do nome de Rita Camata para o cargo de vice na chapa de José Serra. É que o mercado teria informações de que uma revista semanal traria denúncias contra o marido de Rita, Gerson Camata. Isso seria ruim para Serra e, conseqüentemente, para o mercado.

Num outro dia foi o "efeito CPMF", desencadeado por uma informação da Receita Federal de que investigaria operações feitas por bancos para que alguns clientes pagassem menos CPMF. Como os bancos seriam os alvos, isso também seria ruim para o mercado.

Por fim teve o "efeito Armínio", com queda aqui e subida acolá devido à decisão do Banco Central de não reduzir a taxa de juros do país, que continua em 18,5%.

É claro que o resultado de cada um desses "efeitos" é que muitas pessoas perdem dinheiro (aquelas que não sabem direito as regras desse mercado) e outras ganham (as que conhecem as regras ou as manipulam).

Também é claro que a instabilidade de todos esses indicadores só acontece porque a economia brasileira ainda é muito vulnerável e especialmente agora passa por um momento difícil.

Mas o pior de tudo isso é que para o cidadão comum, aquele que com muito custo tentava entender novas moedas e tabelas de conversão, todo esse economês, ou a manipulação desse idioma, fica sem possibilidade de tradução.

Antes bastava uma calculadora. Agora, de nada adianta, porque a lógica não é mais matemática. Pior ainda é que as explicações sempre vêm depois que a sua conta no cartão de crédito aumentou ou o saldo daquela aplicação diminuiu.

E nesse vale-tudo, não se assustem se durante a Copa, que começa esta semana, surgir o "efeito Vampeta" para causar mais perdas e ganhos. A explicação? Será qualquer uma: se ele joga ou não joga, o Brasil ganha ou não ganha, o comércio vende mais ou menos bandeiras, camisetas ou televisões...

Como ele jogou ontem na goleada de quatro a zero, já poderemos ver amanhã o que o mercado achou.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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