Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

09/06/2002

Política, futebol, mulheres e números

Os números são grandes aliados para compreender uma série de fenômenos. Também ajudam na hora de fazer previsões. Mas não há dúvidas de que existe hoje exagero e mau uso de estatísticas. Essa falsa febre cientificista muitas vezes exclui o bom sendo e vê surpresas onde elas não existem.

Afinal, estatísticas não valem nada depois de um fato consumado. Por exemplo, de que adianta saber que a chance de um raio cair sobre a tua cabeça é de um em um bilhão se ele já te atingiu em cheio? As probabilidades, por mais ínfimas que sejam, saltam para 100% quando o que era apenas provável se torna realidade.

Essa divagação toda é para comentar o excesso de números relacionados aos assuntos que mais interessam aos brasileiros hoje, Copa e eleição. Primeiro o futebol que, para desespero dos viciados em números, mostra nesta Copa que o esporte está longe de poder ser enquadrado numa calculadora.

Quem por exemplo levava em conta estatísticas apostou na França e na Argentina para vencer a Copa do Mundo. A França lidera e a Argentina está no segundo lugar do ranking da Fifa. Mas a primeira até agora não marcou nem sequer um gol e pode ficar fora da próxima fase. A segunda ganhou uma partida, pelo magro placar de 1 a 0, e perdeu outra.

Claro que as duas equipes podem ainda ficar com o título, mas aí desmentirão mais uma vez os números. Dessa vez os números da primeira fase.

Outra curiosidade são as estatísticas pós-jogo. O time A teve 70% do tempo de posse de bola, conseguiu 50% a mais de escanteios, finalizou mais vezes, acertou mais passes, fez mais desarmes etc., mas perdeu. Por quê? Porque futebol é assim mesmo.

Na política não é diferente. Os institutos sérios não se cansam de dizer que resultados de pesquisas mostram apenas a opinião do eleitor naquele específico momento. Ou seja, apenas falam o óbvio: o fato de um candidato estar na frente agora não significa que ele vencerá.

Mas de nada adiantam os alertas. Pesquisas movimentam o mercado, essa entidade que parece definir os destinos de todos. Na sexta-feira, quando no meio do dia o dólar caiu e a Bolsa subiu, alguns operadores atribuíam a uma pesquisa a mudança de humor dos investidores. O curioso é que esses operadores afirmavam ter em mãos números de uma pesquisa que ainda estava sendo feita naquele momento. Os números, no caso, eram falsos.

São pesquisas, e seus números, que também estão ajudando a definir as chapas dos presidenciáveis. O PTB, que apóia Ciro Gomes (PPS), encomendou uma para saber o que os eleitores queriam de um vice: que ele fosse sindicalista, mulher ou simplesmente um homem político. Deu mulher.

Não é à toa que José Serra já pegou uma para sua chapa, que Garotinho diz estar atrás de outra e que Lula cogite colocar a senadora Marina Silva ao seu lado.

É uma pena, mas são os números, não as qualidades, que estão dando lugar de destaque às mulheres nessa eleição.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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