Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

30/06/2002

O que será do nosso amanhã? O futebol poderá responder?

Os brasileiros tínhamos até hoje de manhã quatro grandes dúvidas: seríamos pentacampeões, viraremos a Argentina, quem será o presidente a partir de janeiro de 2003, como será esse novo governo?

Curiosamente, para alguns as respostas das três primeiras perguntas podem estar interligadas. Há alguns dias, analistas de Wall Street afirmavam que um bom desempenho do Brasil na Copa do Mundo seria bom para a economia de toda a região.

A explicação apareceu toda encadeada, como sempre acontece com essas teses econômicas: o pentacampeonato melhoraria o ânimo dos brasileiros; o candidato do governo seria beneficiado (efeito normal nos casos de conquistas); isso ajudaria a melhorar o humor do mercado, que passaria a olhar com melhores olhos para o país; uma recuperação no Brasil traria efeitos benéficos também para os vizinhos, como Argentina e Uruguai.

Por essa lógica, seria possível dizer que as três perguntas foram respondidas: a vitória do Brasil significa que não viraremos a Argentina e que teremos José Serra na Presidência.

Mas antes de os tucanos festejarem duas vezes a vitória brasileira, é bom lembrar que esses analistas, que já não são assim tão confiáveis quando se baseiam apenas em variáveis econômicas, passam bem longe quando se aventuram pelo futebol.

Os norte-americanos do banco Goldman Sachs, por exemplo, previram que França, Argentina, Itália e Espanha estariam nas semifinais da Copa 2002. As duas primeiras seleções caíram na primeira fase. A segunda, nas oitavas-de-final, e a Espanha deu adeus à Copa nas quartas-de-final.

Levando em conta esse erro feio, daria para dizer que o pentacempeonato brasileiro levará o país à pior crise de todas e que Enéas retomará sua campanha e será o novo presidente do país.

Ironias à parte, seria tolo afirmar que o futebol não tem influência na política. Isso já foi provado diversas vezes. É só preciso saber como ele será usado pelos candidatos.

Em enquete realizada pela Folha com os jogadores, eles afirmaram não saber em quem votar e que não estavam preocupados com política agora.

Mas é claro que os marqueteiros dos principais candidatos estão de olho. No jogo de hoje, mais do que atentos em dribles ou arrancadas de algum dos "Rs", eles estiveram pensando em como tirar proveito de uma foto, de uma declaração.

Ou melhor, pensaram em como transformar o "L", o "S", o "C" ou o "G" em um "R". Será que dá? Ou será que os candidatos vão tentar contratar Scolari como marqueteiro?

Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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