Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

14/07/2002

O melhor momento para ser brasileiro. Mas lá no exterior

Estive por nove dias fora do Brasil, onde participei de um evento que contava com a presença de pessoas de mais de 26 países. Em sua maioria jornalistas. Como isso aconteceu logo na sequência da Copa do Mundo, foi fácil perceber que a despeito do que querem os norte-americanos o futebol é mesmo o maior esporte do mundo e que nada supera uma Copa como evento que atrai a atenção das pessoas.

Nesse momento também foi fácil constatar que é bom ser brasileiro. À primeira menção do país logo vinham os cumprimentos pela conquista do pentacampeonato, por termos Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho etc., ainda que as pronúncias fiquem às vezes longe do compreensível.

Todos parecem nos invejar um pouco. Todos parecem que quiseram ser um pouco brasileiros naquele domingo da final. Houve muitas histórias de " também vesti uma camisa amarela e fui para a rua, buzinar e festejar". Também não faltaram espantos de "não sabia que existiam tantos brasileiros lá!". Sendo lá Zurique, Estocolmo, Pequim, Johannesburgo, Lisboa, Sydney ou qualquer outra cidade.

Na hora de tentar entender a razão dessa torcida pelo Brasil foi possível encontrar ao menos três explicações

1- Há os que gostam mesmo de futebol e do jeito de atuar de nossos jogadores;
2- A maioria, por razões distintas, não gosta dos alemães e não queria vê-los tetracampeões;
3- Vitória do Brasil garante festa e a exibição de mulheres seminuas pelas ruas.

Depois de todo esse incentivo ao ufanismo, o problema, como sempre, é a volta. E começa na saída do aeroporto. Comparada com muitas outras cidades do mundo, São Paulo é feia, e seu sistema de marginais piora o cenário. Depois vêm os jornais.

A primeira página da Folha de ontem, por exemplo, trazia os seguintes títulos da dobra para cima:
"Crise nos fundos tira R$ 300 mi da Receita"
"Embratel diz não resistir a 6 meses de competição"
"Petrobras deve perder US$ 260 mi com sócia"
"Governo já admite alta da inflação e PIB menor"
"Recrutas são dispensados; FHC dá verba a militares" (este último, menos auto-explicativo, tratava da crise nas Forças Armadas brasileiras).

Ou seja, só notícias ruins.

É nessa hora que volta a velha pergunta, quando será que teremos razões para sermos invejados por algo mais que nosso toque de bola ou pelas curvas "generosamente" exibidas por algumas mulheres?

Até que isso aconteça, seguiremos nós a invejar a organização de alguns, o PIB de outros, a taxa de desemprego de vários, os índices de violência da maioria, o nível educacional de um grande número...
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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