Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

21/07/2002

Os videntes e as eleições no Brasil

O próximo presidente do Brasil será... Um homem, segundo as cartas. Nordestino ou paulista, de acordo com os búzios. Diz o tarô que terá barba ou uma calvície plena ou avançando. A borra do café revela que terá em janeiro entre 45 e 60 anos. Para as runas, ele terá uma primeira-dama brasileira ou chilena. Tem ao menos dois filhos, aponta o I-Ching. Já perdeu eleições para o Executivo e ganhou para o Legislativo, mostra a bola de cristal.

E isso é tudo que as previsões podem dizer. Com as reviravoltas das pesquisas, nem o mais charlatão dos videntes (ou dos analistas políticos) deveria se arriscar mais. E olha que o quadro acima já assume o risco de excluir Anthony Garotinho do páreo de vez.

O problema é que essa corrida presidencial começou de forma prematura, e foram muitos aqueles apontados como o vencedor. Desde o ano passado, já se alternaram na posição de "quase presidente" Itamar Franco, Roseana Sarney, Ciro Gomes, Garotinho, Serra e, é claro, Lula, que sempre esteve na liderança das pesquisas.

Mas o que irá acontecer agora? Num cenário possível teremos a repetição da eleição de 1989, com um candidato do PSDB, que parecia muito forte, ficando para trás e uma disputa no segundo turno entre Lula e um jovem que fez carreira política no nordeste.

Pode ainda ocorrer a repetição das eleições de 1994 e 1998, com a polarização entre Lula e o candidato do PSDB. Mas ainda assim algo será diferente, porque parece que só um milagre, como a aparição da imagem de Serra nas janelas de todos os brasileiros, poderá fazer o tucano levar no primeiro turno.

Mas pode acontecer algo totalmente impensável há alguns meses. Um segundo turno sem Lula, entre Ciro e Serra.

Ainda parece improvável, mas é de Lula que Ciro tem tirado mais votos para sua subida. Basta ver os números do Datafolha. Em maio, Lula tinha 43%. Serra 17, e Ciro 14. Passados dois meses, Lula caiu para 38%, Serra foi de 17% para 20%, e Ciro subiu quatro pontos, de 14% para 18%.

Essa migração de votos de Lula para Ciro irá continuar? E como explicá-la? Será que para alguns eleitores Lula virou certinho de mais e agora é Ciro, com sua indignação forçada, que representa a alternativa? Ou será que esse eleitor de Lula que está fugindo é apenas aquele que não queria Serra (ou o que ele representa, o governo) e estava com o petista por falta de opção?

De qualquer forma, respostas mesmo só teremos em outubro. É claro que o horário eleitoral, que começa daqui a um mês, terá um peso decisivo nos próximos cenários, pois é a partir dele que a maioria decide o voto.

Vale lembrar que Serra é o que tem mais tempo, mas é Ciro que parece se aproveitar de forma mais eficiente das câmeras para convencer eleitores (tem sido assim nas entrevistas realizadas até agora).

Portanto, economize seu dinheiro com os videntes. Eles não poderão dizer nada. E economize também porque nem é preciso bola de cristal para saber que, qualquer que seja o presidente, terá, assim como nós, um 2003 economicamente difícil.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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