Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

25/08/2002

Esqueçam o que escrevi (ou como essa eleição é louca)

Em março, escrevi uma coluna saudando a decisão do TSE que obrigava a verticalização das coligações. Entendi que a medida traria alguma coerência partidária ao país, uma vez que determinava que se dois partidos fizessem aliança para a Presidência não poderiam se coligar com outros que também tivessem candidatos à Presidência na esfera estadual.

Ainda acho a medida boa, mas o que se vê hoje é que a determinação do TSE não inibiu em nada alianças heterodoxas e não há qualquer possibilidade de se guiar pela políticas de apoios e troca-trocas incompreensíveis que estão nas ruas.

Candidatos esquecem qualquer coerência ou fidelidade partidária para se unir àqueles que aparecem melhor nas pesquisas e que possam lhe render votos.

Exemplos não faltam. O PL apoia Lula nacionalmente e tem o candidato a vice na chapa petista, mas em São Paulo está com Paulo Maluf.

O PMDB fechou com José Serra (PSDB) para a Presidência, e também indicou o vice, mas em São Paulo desce o pau no governo Fernando Henrique e sobe no palanque de Lula.

Na última semana, no Ceará, Tasso Jereissati, um dos caciques do PSDB, anunciou que desembargou da campanha do candidato de seu partido para entrar explicitamente na de Ciro Gomes.

Nos pequenos municípios a situação é ainda pior. Há candidato a deputado do partido A que coloca no mesmo outdoor o nome de um senador do partido B e de candidato a presidente do C. E pouco importa que no horário eleitoral da rádio e da TV todos estejam se digladiando, nesses outdoors convivem harmonicamente.

Isso, associado a um discurso único de todos os candidatos (todos falam de geração de emprego, de venda de remédio mais barato, de combate à violência com uma polícia mais dura, de retomada do crescimento econômico etc.) está dando um nó na cabeça do eleitor.

A última pesquisa Datafolha mostrou bem essa confusão. Mostra, por exemplo, que Paulo Maluf é o candidato ao governo de São Paulo com mais votos entre os eleitores de Lula. Algo impensável há uns anos, dado o ódio mútuo que nutria o eleitor de um em relação ao do outro.

Mas agora tudo parece possível e no dia 6 de outubro muitas pessoas irão às cabines eleitorais votar conjuntamente em três nomes que já foram inimigos históricos: Lula para presidente, Quércia para senador e Paulo Maluf para o governo.

Então, segue aqui uma sugestão: que o TSE, na próxima eleição, desenvolva um software que, num caso como esse, a máquina mostrasse uma mensagem: "voto incoerente". E perguntasse ao eleitor, você quer mesmo votar assim?

PS: Como Millôr Fernandes diz que no Brasil a gente tem sempre que avisar quando está sendo irônico, quero avisar, antes que me acusem de qualquer coisa, que o último parágrafo é irônico.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca