Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

06/10/2002

Ciências exatas não explicam cabeça de eleitor

A grande empreitada do dia será tentar identificar o que vai acontecer com a cabeça dos eleitores após a divulgação das últimas pesquisas. O Datafolha foi às ruas ontem e constatou que Luiz Inácio Lula da Silva tem 48% dos votos válidos. José Serra, 21%, e Anthony Garotinho, 19%.

Como a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, tudo pode acontecer: Lula ganhar no primeiro turno ou ter que enfrentar um segundo com Serra ou Garotinho.

O que essas informações e incertezas vão causar? Que efeito terão na definição dos 4% ainda sem-candidato e dos 18% que admitiram mudar de voto hoje, dia da eleição?

Como "livre pensar é só pensar", seguem algumas hipóteses.

CENÁRIO 1 - esses inconvictos vão pensar: que acabe logo essa campanha, vamos votar em Lula porque o Brasil precisa de uma definição, depois de mais de um ano de corrida eleitoral. Como, segundo as mesmas pesquisas, o petista vence todos os adversários também no segundo turno, vamos definir isso já.
Desovam votos em Lula e ele vence.

CENÁRIO 2 - diante de uma possibilidade até então impensável para essa imprevisível eleição (Lula e Garotinho no segundo turno), alguns recém-petistas ou quase-petistas se dão conta de que tudo bem Lula ganhar, mas que um segundo turno com os dois oposicionistas seria demais e poderia assustar ainda mais o mercado. Com isso, decidem voltar atrás e votar em José Serra. Depois, pensam, a gente vê o que fazer no segundo turno. Resultado, Serra descola de Garotinho, Lula cai e os dois vão para nova disputa no dia 27.

CENÁRIO 3 - os mais ferrenhos antigovernistas vêem nesse empate a chance de impingir fragorosa derrota ao governo FHC. Lula e Garotinho num segundo turno não seria apenas um não a José Serra, mas um NÃO ao governo tucano e a seus oito anos no poder. Nesse cenário, ciristas, por exemplo, transferem seus votos para Garotinho, que avança para o segundo turno.

Como se vê, a imprevisibilidade não se acaba com a pesquisa. Na verdade, ela pode não ter influência nenhuma. Podem também ocorrer todos os cenários ao mesmo tempo, com um anulando o efeito do outro, o que manteria o resultado da sondagem de ontem.

Como cabeça de eleitor não pode ser analisada apenas com conceitos das ciências exatas, o negócio e esperar as apurações e tentar consolidar teses depois.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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