Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

20/10/2002

Os riscos à democracia e à economia do Brasil

O Brasil realiza este ano sua quarta eleição direta para presidente desde a redemocratização. Nesses anos todos, o país consolidou sua democracia e ninguém mais imagina que isso aqui é apenas uma republiqueta sujeita a golpes, dependendo do resultado dos pleitos.

Na memória do Brasil, muitos foram os momentos em que as pessoas pensavam: "ganhar pode até ganhar, mas duvido que tome posse." Mesmo só levando em conta os últimos 50 anos, houve risco à estabilidade institucional quando da vitória de Juscelino Kubitschek e também após a renúncia de Jânio Quadros.

Hoje tudo isso é impensável porque a democracia brasileira pós-regime militar passou muito bem por várias provas. Ainda em seu início, em 85 (depois da última eleição indireta), o país iria enfim ter um presidente civil após mais de 20 anos de militares no poder. Mas Tancredo Neves morreu antes da posse e havia a dúvida se o vice deveria ou não assumir.

José Sarney assumiu, ainda que o general João Baptista de Figueiredo tenha se recusado a lhe passar a faixa presidencial, cumpriu seu mandato e foi substituído por alguém legitimado pelas urnas.

A experiência de Fernando Collor na Presidência foi desastrosa. Mas o impeachment e a posse do vice, Itamar Franco, deram mais uma mostra de grande solidez, uma vez que nas democracias tão importante, ou até mais, que poder eleger é poder remover os governantes ímprobos.

Itamar concluiu o mandato e em 1995 entregou a faixa para um de seus ministros, Fernando Henrique Cardoso.

FHC, por sua vez, se tornou em 1998 o primeiro brasileiro da história a ser reeleito presidente. Agora chega ao final de seu segundo mandato e ninguém nem sequer pensa que haja qualquer risco institucional. Todo brasileiro sabe que FHC passa a faixa em janeiro para o novo presidente, ganhe Lula ou ganhe Serra.

Mas se na área política parece ao mundo que o país está sólido, o mesmo não acontece com a economia.

Sobressaltos econômicos ocorridos nos últimos meses, rebaixamentos do Brasil nas agências de classificação de risco, depoimentos de investidores e editoriais da imprensa internacional mostram que há dúvidas sobre a capacidade do país de manter a economia nos eixos num momento de transição de governantes.

E aí a história e a geografia agem contra o país. Tanto o Brasil como outros países da América Latina já deram calote e quebraram contratos _a Argentina, muito recentemente. Com isso, como vão acreditar nesses "latinos".


Talvez levará ainda algum tempo para a consolidação também da imagem de responsabilidade econômica. E para isso depende a performance do novo governo.


Se tudo der certo, se conseguirmos desmentir a frase nunca dita por De Gaulle (que o Brasil não é um país sério), eleições por aqui passarão a ocorrer sem sobressaltos, políticos ou econômicos, como deve acontecer num país que é uma das maiores democracia do mundo.

Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca