Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

15/12/2002

Mulheres, estrelas, lapelas e o estilo Lula

A semana produziu duas imagens que vão fazer a festa dos semiólogos. Na primeira (de terça-feira) estão Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush na Casa Branca. O brasileiro com uma estrela do PT na lapela. O americano com a bandeira dos EUA.
Reuters

Lula, com estrela do PT na lapela, e Bush


O que significa o uso da estrela? Lula sabia que a imagem estaria em todas as TVs e nas capas de todos os jornais do Brasil. Seria então uma resposta à esquerda do PT? Seria uma forma de dizer que ainda é petista, que ainda acredita na história da estrela vermelha, apesar de estar visitando os EUA, de estar trocando cumprimentos com Bush, de ter anunciado naquele país os primeiros nomes oficiais de seu ministério (incluindo o ministro da Fazenda) e de colocar um ex-banqueiro tucano no comando do Banco Central?

A segunda imagem apareceu dois dias depois, no anúncio oficial dos nomes de Antonio Palocci (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil) e Henrique Meirelles (presidência do Banco Central). Lá estava Lula e os indicados, o que é normal, mas lá também estava Marisa, a mulher do futuro presidente.

E aí está a pergunta: o que Marisa fazia lá? Era um evento formal de trabalho, não um evento social.
Lula Marques/Folha Imagem

Marisa acompanha Lula na Granja do Torto
Seria para Lula mostrar que dá importância ao papel das mulheres, apesar de não ter nomeado nenhuma até agora para um dos principais cargos do governo? Afinal, para tristeza de ecologistas, o Meio Ambiente (que será ocupado por Marina Silva) não está no primeiro escalão dos ministérios. Seria para Marisa fazer companhia à mulher de Henrique Meirelles, o novo presidente do Banco Central, que também, sem explicação aparente, estava no evento?

Mas pode ser também que nada seja racionalizado. Pode ser que isso seja apenas o novo estilo do presidente, o "presidente companheiro", que age pela emoção. Aquele que usa a estrela de um partido apenas porque "acha bonito". Que leva a mulher a um evento para parecer comum. Que inicia um pronunciamento de nomeação de ministros com uma piada para tirar a importância do ato. Que chora na diplomação porque é 100% emotivo.

Os semiólogos e nós teremos ao menos quatro anos para entender os signos desse novo governo.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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