Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

26/01/2003

Lula colhe elogios lá fora e críticas no quintal

Escrevo este texto antes do discurso de Luiz Inácio Lula da Silva em Davos, marcado para este domingo. Mas, a julgar pelos comentários de participantes do Fórum Econômico Mundial durante a semana, o brasileiro deve encantar os presentes e ser mais uma vez aplaudido.

É que, como acontecia na administração anterior, o início do atual governo está recebendo muitos elogios lá fora. São ressaltadas a "austeridade", a "responsabilidade", a "boa condução da política econômica". Ou seja, a continuidade do que os poucos críticos chamam de política liberal.

É bem diferente do que muitos esperavam. Um artigo na revista Newsweek retratou bem a situação e chegou a comparar Lula ao bug do milênio: muitos temiam que fosse causar enormes estragos, mas nada aconteceu e o medo se dissipou.

Já aqui começaram a aparecer as primeiras críticas. A maioria vem de dentro do PT. Membros do partido atacam o aumento da taxa de juros, a condução da reforma da previdência, o fato de a reforma tributária ter ficado em segundo plano, o andamento do programa Fome Zero, a ida de Lula a Davos.

Essas críticas poderiam prenunciar que se repetiria com o atual governo o que aconteceu durante a gestão de Luiza Erundina à frente da prefeitura paulistana (1989-1992).

Em seu primeiro ano, Erundina não precisava procurar críticos ferozes na oposição. Eles estavam todos dentro do partido, atacando a prefeita, seus secretários e todos os seus projetos .

Ainda naquele longínquo 1989, foi o sindicato dos servidores municipais, dominado pelo PT, que causou o maior desgaste da administração com greves que paravam setores essenciais.


Mas tudo tende a ser diferente porque Lula tem algumas vantagens. Naquela época estava no poder um grupo de pequena expressão dentro do partido. Agora estão os manda-chuvas.

Nos "anos Erundina", a prefeita podia ser repreendida pelo partido. Agora, são os críticos que correm esse risco.

E, principalmente, naquela época a maioria dos petistas achava que todos os problemas poderiam ser resolvidos num átimo. Que era possível fazer a revolução com a caneta.


Como todas essas coisas mudaram, Lula segue colhendo os elogios lá fora e dando menos importância às críticas do quintal.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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