Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

02/02/2003

BBB (Bush, Blair e Blix), o reality show da guerra

Hans Blix, Tony Blair e George W. Bush. Três homens com "B" no sobrenome. Três homens que trataram de guerra na última sexta-feira.

Hans Blix é o chefe dos inspetores de armas da ONU encarregado de descobrir se o Iraque tem armas de destruição em massa ou se está de fato se desarmando.

Cabe a ele apresentar relatórios para os líderes mundiais. Fora Saddam Hussein e autoridades iraquianas, talvez ninguém tenha mais condições do que Blix de dizer se o ditador iraquiano é hoje um risco real ao Ocidente.

Pois esse homem disse em entrevista ao jornal "The New York Times" que não há, até agora, razões para uma ação militar contra o Iraque. Afirmou que os inspetores não encontraram indícios de que o país esteja escondendo armas nucleares, químicas ou biológicas, que tenha ligações com os terroristas da Al Qaeda, ou que esteja tirando cientistas do país para que não sejam entrevistados por homens das Nações Unidas.

Ou seja, por ele, não deve haver guerra.

O segundo "B" é o primeiro-ministro britânico Tony Blair. Na sexta ele foi até a Casa Branca para discutir com Bush a oportunidade ou não de um ataque aos iraquianos.

Alguns estudiosos tentaram fazer uma relação entre esse encontro e o ocorrido em 1942 entre o então primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o então presidente americano Franklin Roosevelt.

Naquela época, Churchill tentou convencer Roosevelt de que, estrategicamente, era melhor esperar antes de criar um novo front de batalha contra o ditador nazista Adolf Hitler.

Foi bem sucedido, e a chegada dos americanos ao continente europeu só se deu dois anos depois, num melhor momento, para ganhar a guerra.

Mas naquela ocasião Churchill ainda representava um império e podia falar de igual para igual com uma potência emergente (os EUA em 1942).

Blair não tem a mesma força. O império britânico ruiu e o primeiro-ministro é visto até por muitos de seus compatriotas como simplesmente o "poodle de Bush", alguém que apenas concorda com as vontades do colega mais poderoso.

Blair parece ter ido à reunião disposto a convencer Bush a dar mais tempo aos inspetores da ONU, ou até a buscar um novo aval da ONU para o ataque. Ou seja, parece que esse "B" quer ao menos adiar um pouco a guerra.

Por fim, George W. Bush. Aquele que de fato vai decidir o destino do Iraque. Após o encontro com Blair, o norte-americano não mudou em nada seu discurso. Afirma que Saddam Hussein tem que se desarmar e insiste em deixar o ônus da prova para o ditador.

Quer dizer, pouco importa que os inspetores da ONU não tenham encontrado nada no Iraque. Para ele, Saddam continua sendo um perigo para toda a humanidade.

Ou seja, esse "B", o mais forte de todos, segue querendo a guerra. No mundo real, será que os outros dois "B" têm algum importância?
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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