Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

23/02/2003

"Tira o tubo"

Nos anos 80, Jô Soares fazia em seu programa humorístico um quadro em que um sujeito voltava à consciência após anos em coma. Quando as pessoas lhe contavam as notícias, ele não acreditava e usava o bordão "tira o tubo" para mostrar que não concordava com o que estava acontecendo no Brasil e no mundo. Se tudo estava daquele jeito, o melhor era morrer ou continuar inconsciente.. Mas, no final, dizia "deixa o tubo", uma vez que as coisas de fato não haviam mudado nada.

Jô poderia voltar a fazer o mesmo personagem. Assunto não lhe faltaria. Imagine alguém recém-reacordado que lesse num jornal "Acuado por denúncias, ACM pode renunciar ao cargo de senador".

Isso não foi há quase dois anos, quando ele estava envolvido com a violação do painel do Senado? Foi, mas agora acontece de novo. Sai o painel e entram acusações de envolvimento com grampo de políticos adversários e até de uma ex-namorada. Será que ele renuncia de novo? E se renunciar, será que se candidata de novo? E se se candidatar, será que o povo da Bahia o reelege de novo? Será que tudo sempre acontece de novo? "Tira o tubo".

Quem estivesse desacordado há mais de 10 anos e lesse agora "Bush (seja o pai, seja o filho) quer atacar o Iraque" teria toda a razão em se perguntar: mas isso não foi no século passado? Nada mudou?

Pois George Bush invadiu o Iraque, tentou derrubar Saddam Hussein, bagunçou com isso a economia mundial. Agora, George W. Bush quer fazer o mesmo. Até agora, ao menos, já conseguiu bagunçar a economia mundial. "Tira o tubo".

Um desacordado mais recente iria logo ficar sabendo que mudou o presidente do país e que Lula foi eleito após três derrotas. Mas ao ler os jornais, poderia se assustar: "BC eleva os juros de novo para conter a inflação". "Fazenda eleva a meta de aperto fiscal". Mas essa não era a política do antecessor? O PT não criticava tudo isso?

"Tira o tubo" que esse mundo é uma piada sem graça.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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