Pensata

Vaguinaldo Marinheiro

30/03/2003

Os erros desta guerra

Muitos acreditavam que esta guerra no Iraque seria um passeio para as forças dos Estados Unidos e do Reino Unido. Como um rato que ruge, Saddam Hussein cairia assim que a primeira bomba atingisse Bagdá, dada a enorme superioridade militar das potências ocidentais contra os miseráveis das areias.

Tudo foi aos poucos dando errado. O ataque de decapitação (no início do combate, dia 20 de março), o "choque e pavor" (bombardeios intensos), a idéia de não ocupar as cidades ao sul, mas partir direto para Bagdá...

Sobraram as surpresas para os americanos no front. "O inimigo contra o qual lutamos é diferente daquele para o qual havíamos nos preparado", disse o general Willliam Wallace, comandante das forças terrestres em território iraquiano, na sexta-feira. "Não consigo entender tamanha resistência. Quer dizer, estamos lá para ajudá-los a se livrarem do regime (de Saddam Hussein)", afirmou o sargento norte-americano Jamie Villafane, ferido em combate.

Mas onde foi que os chefões da Defesa americana erraram?

Um dos erros foi acreditar que o início da guerra faria surgir algo como a Aliança do Norte, o grupo que com a ajuda dos Estados Unidos derrubou o Taleban no Afeganistão. Os homens da aliança facilitaram o trabalho das tropas americanas, uma vez que atuaram nas principais batalhas em solo, num terreno conhecido por eles, mas desconhecido pelo Exército dos EUA.

Isso não aconteceu até agora no Iraque. Há grupos opositores de Saddam, mas os curdos, no norte, podem até atacar tropas leais ao ditador iraquiano, só que se limitam a agir na própria região, nunca irão numa incursão até Bagdá. Já os muçulmanos xiitas estão à espera e não parecem querer nenhuma relação com os "invasores". Além disso, nenhum dos dois grupos confia nos EUA.

Mas o principal erro parece ter sido menosprezar o antiamericanismo. Os iraquianos podem até odiar Saddam Hussein, mas odeiam mais os americanos porque: 1) são nacionalistas e esclarecidos a ponto de não quererem que um estrangeiro defina seus destinos; b) não gostam de Saddam Hussein e sabem que ele teve o apoio dos Estados Unidos para se firmar no poder no início de sua ditadura; c) sabem que o Iraque já foi uma nação próspera e culpam os EUA e o Ocidente pela derrocada econômica causada pelo embargo econômico imposto ao país; d) os mais religiosos acreditam que os soldados "invasores" estão profanando terras sagradas.

Isso tudo não fará com que as forças da coalizão percam a guerra _não haverá um "Vietnã da areias", como sonham alguns fundamentalistas. Apenas fará com que a guerra se estenda e que também cresça o número de baixas nos exércitos americano e britânico.

Pode também causar fortes danos ao futuro político de George W. Bush. Mas ainda falta tempo para a próxima eleição. Tempo suficiente para os falcões da Casa Branca iniciarem outras guerras.
Vaguinaldo Marinheiro é secretário-assistente de Redação da Folha de S.Paulo. Escreve para a Folha Online aos domingos

E-mail: vaguinaldo.marinheiro@folha.com.br

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