Pensata

Eliane Cantanhêde

31/10/2004

O PT no segundo turno

O PT fez bonito no primeiro turno, ao ganhar seis capitais. Mas fez feio no segundo, ficando fora de todas as capitais da região Sul do país. O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estava fora da disputa em Florianópolis, não conquistou Curitiba e perdeu Porto Alegre, depois de 16 anos no poder. Além de perder a superestratégica São Paulo para o seu adversário mais direto, o PSDB.

Como o Rio de Janeiro elegeu o PFL já no primeiro turno, a grande e única trincheira petista nas capitais do Centro-Sul é Belo Horizonte, seguida por Vitória. PSDB fica com São Paulo e Curitiba. PPS leva Porto Alegre.

O partido de Lula se enraizou no Norte e Nordeste e ganhou muitas novas prefeituras, mas sofreu derrota também em Goiânia e em Belém, e a cúpula nacional vai ter poucas capitais a comemorar no segundo turno. Deve, portanto, passar pelo constrangimento de ter de fazer a festa em Fortaleza --onde rejeitou ostensivamente a candidata petista, Luizianne Lins, agora eleita.

A derrota mais significativa, obviamente, é em São Paulo, onde a prefeita Marta Suplicy pegou uma prefeitura arrasada depois de anos de Paulo Maluf e do desastre Celso Pitta, fez o que pôde na administração e lutou com garra até o último minuto da campanha.

O PT perde, mas Marta sai da campanha com um nome consolidado na política nacional, um capital de votos invejável e um futuro pela frente. As definições do PT para 2006 passam por ela. Lembre-se de que o hoje vitorioso José Serra (PSDB) já tinha perdido duas eleições para a Prefeitura de São Paulo e hoje está aí.

De resto, vale lembrar que eleições municipais não decidem sucessões presidenciais, mas definem alianças e ajudam a desenhar cenários. E o cenário que 2004 projeta para 2006 é de uma polarização PT-PSDB, com o PT aliado a PC do B, PL, PTB e PSB, o PSDB aliado a PFL e PDT e os dois blocos disputando PMDB, PP e PPS.

Lula é o franco favorito à reeleição em 2006, e isso não muda com a eleição municipal. O que muda é que a oposição ganha ânimo, o governador Geraldo Alckmin desponta como o principal adversário dele e o PT vai ter que suar muito a camisa. Que tal esquecer a militância paga e botar a militância do coração de novo nas ruas?

PS -- Aos leitores que mandaram mensagens reclamando da Pensata da última quarta-feira ("Domingão do eleitor"), recomendo uma nova leitura. Tudo que está ali dito se confirma hoje. Porque não é escrito com a paixão de militante, mas com a frieza que se espera de analista.

Especial
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    Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

    E-mail: elianec@uol.com.br

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