Pensata

Eliane Cantanhêde

14/09/2005

Xeque (ou cheque) mate

O empresário Sebastião Buani mexeu suas peças, Severino Cavalcanti reagiu e mexeu as dele num tabuleiro muito confuso, cercado de apostas que finalmente foram encerradas hoje, quarta-feira, 14/09: Severino já tinha "morrido" na presidência da Câmara, com cheque ou sem cheque. Agora, morreu de morte morrida. Só falta definir a data e o sucessor _ o que, aliás, não vai ser nada fácil.

No meio da partida, tínhamos isso: o Congresso só pensava numa coisa, o cheque. Cadê o cheque que Buani jurou que apresentaria como prova contra Severino?, bradavam todos, especialmente os governistas, em geral, e os petistas, em particular, que precisavam de uma desculpa para ficar em cima do muro e não tomar nenhuma providência para, digamos, sanar o problema. Agora, o discurso acabou. Depois de tudo e de todos, o PT finalmente encampou a defesa ética, a defesa da troca de Severino.

Buani apresentou oficialmente à imprensa e, portanto, à Nação, o cheque que faltava. O endosso não foi do motorista de Severino, que era primeiro secretário da Câmara e responsável pela renovação do funcionamento do restaurante de Buani. Foi da secretária. Pior ainda para Severino.

Mas, mesmo enquanto o sr. cheque não vinha, o que interessava já era que o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil estava sob suspeita e sob investigação, inclusive da Polícia Federal. Como os deputados viam isso? E como os brasileiros suportam?

Cinco partidos de oposição (PSDB, PFL, PV, PPS e PDT) já tinham protocolado ontem uma representação para tirar Severino do cargo. Tiveram apoio de boa parte da bancada do PT, mas só do PT dissidente. A verdade é que o Planalto, o seu partido e sua base aliada viraram tropa de choque de Severino. Quem te viu, quem te vê. O partido que crucificou incontáveis personagens por muitíssimo menos, se organizou para defender Severino. O cálculo político falou mais alto do que o dever ético. Até que o cheque acabou com a brincadeira e com o escudo do governo e do PT para não tomar nenhuma atitude.

Nesse emaranhado, a posição mais serena e verdadeira foi do deputado baiano Walter Pinheiro, que é do PT dissidente e assinou a representação ontem. Ele questionava a versão generalizada de que, se aparecer o tal cheque, Severino estava liquidado; senão, permaneceria inteiraço, firme e forte na presidência da Câmara.

Pinheiro indagava: "E no caso do Roberto Jefferson? Há cheque? Aliás, há qualquer documento?"

Não, não há. E Jefferson estará indo para o cadafalso neste momento, sem dó nem piedade, enquanto Severino se agarrou até o fim a um cheque voador. Ah! E ao Palácio do Planalto, que só é voador quando quer...

A sorte de Severino já estava selada. Politicamente, ele tinha chance zero de permanecer no cargo. O que surpreendeu, mais uma vez, foi a seqüência de erros do PT, liderado pelo Planalto. Ficou horrível para Severino. E não ficou nada bonito para o governo e o seu partido.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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