Pensata

Eliane Cantanhêde

09/01/2002

Jungmann: é pra rir ou chorar?

Não bastasse a confusão já instalada no time governista, agora mais essa: o lançamento da "candidatura" do ministro Raul Jungmann (Reforma Agrária) à Presidência pelo PMDB. Acredite quem quiser.

Se queria ajudar alguém, Jungmann pode estar servindo de perfeito bumerangue. Quanto mais acham que ele entrou na história para fazer o jogo sujo em favor do também ministro José Serra (Saúde), pior para Serra, para ele próprio, para o PMDB e para o PSDB. Pegou mal.

O "lançamento" de Jungmann à convenção do PMDB foi reproduzido com seriedade pelos jornais e pelas televisões, mas levado na pilhéria nos meios políticos e até jornalísticos de Brasília.

Brincadeiras multiplicavam-se na terça-feira, 8 de janeiro, dia do anúncio. Algumas delas:

1) Bomba, bomba! Roseana Sarney está desistindo da candidatura! Resistiu a Lula, Serra e Garotinho, mas não suportou a força eleitoral de Jungmann!

2) Para o líder peemedebista no Senado, Renan Calheiros, o ministro da Reforma Agrária encolheu: virou um "minifúndio improdutivo".

3) Para os pefelistas, Jungmann é o "laranja" de Serra, para fazer o que o próprio Serra jamais poderia: meter o sarrafo em Roseana Sarney, a primeiríssima nas pesquisas entre os governistas.

4) Roseana é o novo MST de Jungmann!

5) Agora vai! Itamar Franco sai do páreo e o grande embate no PMDB será entre Jungmann e... o senador Pedro Simon (RS).

6) Jungmann, afinal, deu ao governo o que lhe faltava nesta campanha: um Eduardo Suplicy!

A sério, o surgimento desse novo pré-candidato só reforça o que já está ficando tedioso dizer: o governo não consegue chegar a um candidato minimamente consensual, e os partidos governistas estão se matando uns aos outros.

Até o apresentador Sílvio Santos está botando as manguinhas de fora, e não sem alguma razão. A escolha do candidato governista virou um circo, mas, apesar disso, tem boa chance. Segundo o Datafolha, Lula perde até de SS (que nem é considerado candidato mesmo) no segundo turno.

O problema era, é e vai continuar sendo ainda por algum bom tempo, a falta que "ele" faz: ele, o candidato tucano com chances reais de passar Roseana e vencer Lula na reta final. Serra tinha, ou tem, tudo para ser esse candidato. Mas o PFL trabalha contra, parte do PMDB atrapalha, o PSDB cria problemas atrás de problemas. E o próprio Serra não faz nada para ajudar, ao contrário.

Se a entrada de Jungmann em cena era para mostrar força, deu tudo errado. Nada poderia transmitir maior fraqueza.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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