Pensata

Eliane Cantanhêde

01/02/2006

Palocci, sai-não-sai

Antonio Palocci Filho é um nome que ficou fora do relatório final da CPI dos Bingos --ou "CPI do Fim do Mundo", como foi apelidada a comissão parlamentar que investigava Waldomiros, prefeituras petistas, dinheiro/uísque de Cuba e todas essas coisas esquisitas. Mas, se o nome não está ali escrito, ficou pairando no ar. Dúvidas...

Enquanto prefeito de Ribeirão Preto, o ministro da Fazenda Palocci foi muito bem protegido por um cerco que foi de ACM a Mercadante, passando por Tasso Jereissati. Sempre sob o pretexto de que ninguém lucra com solavancos na economia, ele foi passando mansamente, uma a uma, por todas as CPIs e todos os depoimentos no Congresso.

Além disso, justiça se faça, o próprio Palocci colaborou decisivamente para o desfecho, já que se saiu bem desde aquela primeira entrevista coletiva --aquela provocada pelas denúncias, não do PSDB, não do PFL, não da elite malvada nem da imprensa irresponsável, mas do tal Rogério Buratti, o amigão do peito e braço direito de Palocci na prefeitura. Foi ele, Buratti, quem ficou falando de propinas, verbas para o PT e otras cositas más.

Sendo assim, Palocci se safou bonito da CPI, mas nunca se pode esquecer dos outros adversários: seus outros amigos e assessores da época de Ribeirão, a Polícia Federal e o Ministério Público.

E é aí, justamente aí, que se discute o destino do ministro da Fazenda. Se continuar ministro, ele vai ficar sem mandato. E, se ficar sem mandato, não vai ter fórum privilegiado para a eventualidade de ser processado. Não é nenhum absurdo, portanto, imaginar que Palocci possa deixar a Fazenda junto com os demais ministros que têm que se desincompatibilizar até 31 de março para concorrer às eleições.

Seria uma "saída por cima". Ele concorreria a deputado federal e recuperaria a vaga de 2002 como coordenador da campanha de Lula, desta vez, à reeleição.

Nesse caso --o da saída de Palocci-- todas as atenções devem se voltar para dois nomes: Aloizio Mercadante e José Sérgio Gabrielli.

Mercadante, do PT de São Paulo, é o senador mais votado do país e muito próximo de Lula, desde que se tornou seu assessor para a economia, entrou para a política e esteve sempre ao lado dele, na campanha de 2002 e ao longo do penoso 2005. Lula prefere que o candidato do PT ao Governo de São Paulo seja Mercadante, contra a ex-prefeita Marta Suplicy, mas o tem como carta na manga para a Fazenda.

Quanto a Gabrielli, presidente da Petrobras, é a nova estrela de um governo sem estrelas --além daquela vermelha que inundou o país de esperança em 2002. Ele é um dos nomes em ascensão, e isso vale para o ano eleitoral e para o segundo mandato. Se é --claro-- que vai haver um segundo mandato.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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