Pensata

Eliane Cantanhêde

08/02/2006

Candidato único

A eleição no Brasil está interessantíssima: é uma eleição de um candidato só, com direito a caneta, a enorme exposição na mídia, a programas sociais de todos os tipos. O último foi anunciado ontem, com festa no Palácio do Planalto e espaço garantido em todas as TVs, rádios e jornais: o programa de habitação, com uma bolada nada desprezível de R$ 18,7 bilhões.

É por essas e outras que o presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva se recupera visivelmente nas pesquisas de opinião, muito em especial junto às camadas mais pobres. Isso tem um efeito ainda mais importante na campanha: além de os índices objetivos das pesquisas subirem, consolida-se o discurso do "presidente-que-mais-fez-pelos-pobres-neste-país". É ótimo caminho para buscar de volta a classe média, desencantada com Lula e com o PT, mas sem morrer de amores por FHC e pelo PSDB.

Aliás, os tucanos também têm dado uma boa mão para a recuperação de Lula. Enquanto ele corre sozinho na raia, o PSDB continua como o PMDB: sem candidato. Quem tem dois candidatos é porque não tem nenhum. Lula fala e lança o que quer, sem o devido contraponto.

É aí que entra Fernando Henrique Cardoso. Sempre tão equilibrado, até acusado de ser "em cima do muro", ou "vaselina", ele agora está afirmativo, direto, duro. Como foi no programa de entrevistas "Roda Viva" da TV Cultura na última segunda-feira, justamente no mesmo dia em que o PT decidiu processá-lo por dizer, à revista "Isto É", que "a ética do PT é roubar".

No Roda Viva, FHC defendeu o seu governo e atacou o PT e Lula, mas tentando justificar a tal frase motivo do processo: o que quis dizer --segundo ele próprio-- foi que o PT aderiu ao vale-tudo, ao lema de que os fins justificam os meios e ao esquema sistematizado de pagamento de políticos argumentando que foi para uma "causa justa".

Bem, o quadro é esse: Lula é candidato único e, do outro lado, FHC é porta-voz de um candidato que ninguém sabe, ninguém viu. O tempo está correndo. A caneta e as benesses do governo, também. A recuperação de Lula nas pesquisas não é, ou não deveria ser, surpresa para ninguém.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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