Pensata

Eliane Cantanhêde

12/04/2006

A grande aula da Procuradoria

O procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, não é do PSDB, nem do PFL, nem do PPS, nem do PDT, nem do PT. Também não é da "elite", muito menos da tal "elite golpista", nem é dono de jornal, nem jornalista. E o seu relatório sobre o "mensalão", que não é chamado de "mensalão", é arrasador, principalmente para o Governo Lula e para o PT.

Sóbrio, discreto, profissional, Souza fez tudo como um bom procurador deve fazer. Trabalhou em silêncio, esperou a CPI divulgar o seu próprio relatório e apresentou à opinião pública uma peça que vem sendo elogiada pela precisão e pela objetividade. Políticos adjetivam. Bons procuradores, não. Aos fatos.

O relatório da Procuradoria, que agora está no Supremo Tribunal Federal, aponta a existência de uma "organização criminosa" para comprar apoio político e parlamentar, sob o comando do então chefe da Casa Civil da Presidência, José Dirceu, que caiu e foi em seguida cassado pela Câmara.

Junto com ele, incrimina a cúpula do PT no início do governo: José Genoino, Delúbio Soares, Sílvio Pereira. E denuncia, no total, 40 dos envolvidos, entre os cassados, os que renunciaram, os que foram absolvidos e os que nem chegaram a ser julgados pelo plenário.

A maior, talvez única, surpresa foi a inclusão do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto. Mas o relatório dá luz e consistência ao que "se ouvia falar" e ao que já tinha sido devidamente registrado pelo elaborado no Congresso pelo deputado Osmar Serraglio, da CPI dos Correios.

Além de mais lenha na fogueira da campanha eleitoral, esse trabalho será motivo de detalhada, ampla e demoradíssima análise no Supremo. Dê no que der, é uma boa aula de Brasil. E um alerta do que era feito, pode ainda estar sendo feito e não poderá mais ser feito. Porque o Ministério Público, o Congresso, os partidos, o governo, a imprensa e você, cidadão, estão bem informados, conscientes, e sabem o que pode e o que não pode nesse mundo sem limites que é a política, especialmente a política brasileira.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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